Nagorno-Kharabakh: Arménia acusa Turquia de derrubar um dos seus caças

Conflito está em escalada acelerada: combates entre arménios e azerbaijanos atingiram já uma dimensão nunca vista desde o cessar-fogo que pôs fim à guerra, em 1994.

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Imagem de um vídeo publicado pelo Governo azerbaijano durante uma operação militar na linha de contacto do enclave LUSA/AZERBAIJAN DEFENCE MINISTRY / HANDOUT

Ao terceiro dia de confrontos, e com quase 100 mortos, incluindo civis, Arménia e Azerbaijão acusam-se um ao outro de terem levado os combates para o exterior da região de Nagorno-Kharabakh, o enclave de etnia arménia situado dentro das fronteiras azerbaijanas. Numa nova e perigosa intensificação do conflito no Cáucaso, Erevan diz que um F-16 turco derrubou um dos seus caças dentro do espaço aéreo arménio.

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Arménia, o piloto do seu caça, um SU-25 de fabrico russo, foi morto depois de ser atingido pelos turcos – a Turquia, que apoia Bacu, desmentiu. O Azerbaijão já afirmou repetidas vezes que a sua Força Aérea não tem caças F-16 (ao contrário da turca).

Ainda na segunda-feira, Ancara desmentira um responsável arménio que garantiu que os turcos enviaram quatro mil combatentes do Nordeste da Síria para ajudar o aliado, milícias que estariam já a participar nos combates que eclodiram no domingo. Segundo três combatentes na Síria ouvidos pelo diário The Guardian, vários rebeldes inscreveram-se nas últimas semanas para trabalhar com uma empresa de segurança privada turca no Azerbaijão, onde esperam ocupar-se da vigia de instalações militares e instalações de gás e petróleo.

O presidente de Nagorno-Kharabakh, Arayik Harutyunyan, também já acusara a Turquia de estar a armar “mercenários” e a enviar caças para os combates. A confirmar-se a presença turca na zona, este seria o terceiro cenário de guerra onde a Turquia se encontra – e o terceiro palco da luta de poder regional em que se envolveu com a Rússia –, depois da Síria e da Líbia.

Depois de um telefonema com o Presidente Ilham Aliyev, o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu “apoiar os irmãos azerbaijanos com todos os meios”. A Rússia, que tem uma aliança militar com a Arménia e uma base no país, vende armas sofisticadas tanto a Erevan como a Bacu.

Harutyunyan também sugeria que “a guerra já ultrapassou os limites do conflito entre o Kharabakh e o Azerbaijão…”, o que parece agora ser indesmentível. O Governo de Erevan diz que um civil foi morto em Vartemis, depois de as forças azerbaijanas atacarem “infra-estruturas cívico-militares” nesta cidade a mais de 150 km de distância – será a primeira morte em solo arménio. Um autocarro civil terá ainda sido incendiado por um drone na mesma cidade.

Já o Ministério da Defesa de Bacu acusa a Arménia de bombardear a região de Dashkasan, a norte do enclave disputado.

De acordo com a Al-Jazeera pelo menos mais 26 combatentes separatistas foram mortos nos confrontos de terça-feira, elevando o número de baixas militares no território sob controlo de forças étnicas arménias para pelo menos 84. Entre os civis há já 12 mortos – nove no Azerbaijão, três na Arménia.

“Não vimos nada como isto desde o cessar-fogo à guerra nos anos 1990”, disse à Reuters Olesya Vartanyan, analista do think tank International Crisis Group, sublinhando que “os combates estão a ter lugar em todas as secções da linha da frente”. Harutyunyan, citado pela mesma agência, descreve uma “guerra de vida ou de morte”.

Sessão de emergência na ONU

Depois de vários apelos ao fim das hostilidades e de conversas entre os membros do chamado Grupo de Minsk, que assegura a mediação do conflito mas há mais de dez anos não consegue lançar nenhum esforço para uma paz duradoura, o Conselho de Segurança das Nações Unidas marcou uma sessão de emergência para debater o assunto à porta fechada, esta terça-feira à noite.

As duas antigas repúblicas soviéticas travaram uma guerra pela soberania do Nagorno-Kharabakh desde o fim dos anos 1980 – os soviéticos deram o controlo da região de maioria arménia às autoridades do Azerbaijão. Depois de vários pedidos dos arménios do enclave para serem transferidos para a administração arménia, o parlamento regional votou para que a região fizesse parte da Arménia em 1988, quando se aproximava o colapso da União Soviética

O que começaram por ser confrontos étnicos entre o Azerbaijão muçulmano e a Arménia, de maioria cristã, transformaram-se numa guerra total quando os dois países declararam independência de Moscovo. Quando o cessar-fogo, mediado pela Rússia, foi declarado, em 1994, contavam-se 30 mil mortos. Um milhão de pessoas foi ainda deslocada entre denúncias de massacres e de limpeza étnica atribuídos às duas partes.

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