Regulador da saúde recebeu mais de 1200 queixas por mau funcionamento dos centros de saúde

Há vários meses que, um pouco por todo o país, os utentes se queixam de não conseguirem marcar consultas ou renovar receitas porque os centros de saúde não atendem telefones e demoram na resposta aos emails.

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No início de Setembro era este o cenário à porta do centro de saúde de Algueirão, Sintra Rui Gaudencio

Desde o início do ano, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) recebeu 1237 queixas relativas aos centros de saúde, só sobre constrangimentos no atendimento telefónico e confirmação prévia de agendamento. Há vários meses que, um pouco por todo o país, os utentes se queixam de não conseguirem marcar consultas ou renovar receitas porque os centros de saúde não atendem telefones ou demoram na resposta aos emails. Desde meados de Março que a recomendação é que os doentes não se desloquem presencialmente às unidades de saúde e façam marcações prévias.

De acordo com a edição deste domingo do Jornal de Notícias, as queixas que chegaram à ERS referem-se a centros de saúde das cinco Administrações Regionais de Saúde (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve), o que significa que o problema é transversal.

O mesmo jornal refere que a solução que muitos utentes encontram para ter uma resposta é recorrerem ao serviço privado ou às farmácias. E que também às urgências do Hospital de São João, no Porto, estão a chegar doentes que não conseguem resolver os seus problemas nos centros de saúde.

No início do mês, o coordenador da urgência Hospital de São João disse ao PÚBLICO que o número de atendimentos, mais de 400, aproximava-se já da média diária anterior à pandemia. Somando todas as regiões do país, em Agosto os doentes não prioritários nas urgências dos hospitais representavam 45% do total, quando em 2019, em média, rondavam 42%.

Filas à porta

No final de Julho muitos doentes denunciavam já as dificuldades em conseguirem ser atendidos telefonicamente pelos centros de saúde. Alguns queixavam-se de fazer dezenas de telefonemas sem nunca conseguirem que alguém os atendesse. E mesmo as respostas por email são demoradas. Nessa altura, a Ordem dos Médicos contabilizava três milhões de consultas presenciais que não se tinham realizado.

E a situação não melhorou. No início deste mês, numa análise aos dados do Portal do SNS, foi possível concluir que a maioria das consultas realizada pelos centros de saúde é não presencial. Nessa altura, ao PÚBLICO, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, e o presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, afirmavam estar preocupados com a situação e alertavam para a necessidade de os centros de saúde conseguirem fazer mais consultas presenciais.

Também era visíveis as diferenças regionais, com o Norte a registar muito mais consultas não presenciais e o Algarve a conseguir ter, ainda que uma margem mínima, mais consultas presenciais do que à distância.

Mas sem atendimento telefónico e resposta aos emails, muito utentes não encontram outra solução se não deslocarem-se aos centros de saúde, onde ficam à espera, à porta, para serem atendidos. Um problema antigo em muitos centros de saúde, que se agravou com a pandemia.

A recomendação para este Inverno é que as pessoas não se desloquem aos centros de saúde sem marcação prévia, de forma a evitar um aumento de risco de contágio por covid-se. O Ministério da Saúde anunciou a reformulação das centrais telefónicas e a distribuição de 30 mil telemóveis e de 30 mil telefones fixos aos centros de saúde.

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