Coronavírus
O desabafo de um médico francês: “O que nos cansa é uma segunda vaga porque as pessoas não respeitam o distanciamento social”
Sem certezas sobre a data de chegada de uma vacina, o governo de Macron está a ter dificuldades em encontrar o equilíbrio entre autorizar os cidadãos a viverem as suas vidas e conter o vírus.
David Fleyrat estava quase a libertar a sua ala de cuidados intensivos de doentes de covid-19 em Marselha, França, durante a baixa de novos casos durante o Verão. Agora, a unidade de saúde privada está a encher novamente e Fleyrat mal pode esconder a sua frustração. “Não é o nosso trabalho que nos cansa. O que nos cansa é a chegada de uma segunda vaga porque as pessoas não respeitam o distanciamento social”, disse o director-geral da clínica privada Bouchard-Elsan, à Reuters.
A cidade de Marselha está no epicentro de uma subida dos novos casos de coronavírus que se alastra por toda a França. As enfermarias dos cuidados intensivos nos hospitais públicos da cidade mediterrânica já estão cheias, aumentando a pressão sobre as instituições de saúde privadas.
Algumas das maiores cidades fora de Paris, incluindo Marselha, Lyon e Bordéus, já impuseram novas restrições numa tentativa de travar a propagação do vírus e diminuir o número de pessoas nos cuidados intensivos. Dados oficiais mostram que cerca de 638 doentes com covid-19 foram admitidos em unidades de cuidados intensivos nos últimos sete dias.
Os novos casos de coronavírus estão a aumentar não só em França, Espanha, Reino Unido, mas por toda a Europa. O Presidente francês Emmanuel Macron está determinado a evitar uma segunda vaga de confinamento a nível nacional e diz que o país tem de aprender a viver com o vírus.
Mas sem certezas sobre o desenvolvimento e a data de chegada de uma vacina, o governo de Macron está a ter dificuldades em encontrar o equilíbrio entre autorizar os cidadãos a viverem as suas vidas e conter o vírus. Esta terça-feira, a França registou mais de 10 mil novos casos – pela sexta vez em 12 dias – e 78 mortes. Desde o início da pandemia, a covid-19 já matou mais de 31 mil pessoas no país.
“Durante a primeira vaga, os trabalhadores [do hospital] estavam bastante dispostos a aventurarem-se no desconhecido”, disse à Reuters o médico de cuidados intensivos Jean-Gabriel Castagnedoli. “Desta vez, o ambiente não é o mesmo. As pessoas estão menos dispostas, não querem reviver tudo de novo.”
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