Morreu Michael Chapman, um dos grandes directores de fotografia dos anos 1970
O também realizador tinha 84 anos e foi responsável pela fotografia de filmes como Taxi Driver, Touro Enraivecido, Hardcore ou O Fugitivo.
As luzes e a sujidade da Nova Iorque de Taxi Driver, de Martin Scorsese, ou as de Los Angeles e São Francisco de Hardcore, de Paul Schrader, não seriam as mesmas sem Michael Chapman. Foi Chapman, que morreu este domingo, na Califórnia, aos 84 anos, vítima de uma insuficiência cardíaca, o director de fotografia desses filmes. A notícia da sua morte foi anunciada no Twitter e no Instagram pela viúva de Chapman, a argumentista Amy Holden Jones, com quem estava casado há quatro décadas.
Chapman, que nasceu em 1935, em Wellesley, Massachusetts, começou como operador de câmara e foi também ele próprio realizador. A Glória de um Herói, o filme de futebol americano com o qual se estreou em 1983, convenceu Scorsese a usar Tom Cruise como protagonista de A Cor do Dinheiro. Como realizador, assinou também O Clã do Urso das Cavernas, de 1986, e The Viking Sagas, de 1995, bem como um filme-concerto de Peter Gabriel, Peter Gabriel: Live in Athens 1987.
A colaboração entre Chapman e Scorsese continuou, depois de Taxi Driver, em The Last Waltz, o filme-concerto da The Band, Touro Enraivecido, outra vez co-escrito por Schrader e um trabalho que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de Melhor Fotografia, e o teledisco de Bad, de Michael Jackson. Para os Óscares, voltaria a ser nomeado uma vez mais em 1994, aquando de O Fugitivo, de Andrew Davis. Foi também nomeado para um Emmy em 1976, pelo telefilme Death Be Not Proud, de Donald Wrye.
Do seu currículo constam filmes como O Último Dever, de Hal Ashby, de 1974, em cujo filme de estreia, The Landlord, tinha trabalhado como operador de câmara com o director de fotografia Gordon Willis, seu mentor nesse e em filmes como O Padrinho, de Francis Ford Coppola, ou Klute, de Alan J. Pakula. Ainda nos anos 1970, foi responsável pela fotografia de filmes de Philip Kaufman, incluindo o remake de A Invasão dos Violadores, de 1978, de Martin Ritt ou James Toback.
Na década seguinte, trabalhou com Robert Towne, o argumentista tornado realizador, e com dois realizadores também falecidos este ano: Carl Reiner, com quem filmou duas ambiciosas comédias, Cliente Morto Não Paga a Conta, uma paródia noir a preto e branco que usava excertos de filmes antigos, e O Homem dos Dois Cérebros, e Joel Schumacher, no ultra-comercial Rapazes da Noite.
Dois filmes protagonizados por Bill Murray, SOS Fantasmas, de Richard Donner, e o segundo Os Caça-Fantasmas, de Ivan Reitman, levaram-no a trabalhar como director de fotografia de Um Assalto Genial, até hoje o único crédito do actor cómico na realização, partilhado com Howard Franklin. Voltou a trabalhar com Reitman nos anos 1990 e 2000, em O Polícia no Jardim Escola, Seis Dias, Sete Noites e Evolução.
Ainda mais longe do contexto da sujidade da Nova Hollywood em que tinha começado nos anos 1970, foi director de fotografia de Space Jam, a comédia de Joe Pytka com Michael Jordan que juntava imagem real e animação. Também esteve envolvido em filmes como A Raiz do Medo, de Gregory Hoblit, e Vida a Dois, de Rob Reiner. O seu derradeiro crédito como director de fotografia foi em 2007, em O Segredo de Terabítia, de Gabor Csupo.
Em reacção à morte do colega, Paul Schrader escreveu no Facebook: “Um artista e um amigo. A tua falta é sentida. Estão a acabar com a banda, velho amigo”. Num comunicado publicado no site Movie City News, Martin Scorsese também reagiu: “Considero-me muito afortunado por ter podido trabalhar com o Michael Chapman. Eu e o Michael fizemos três filmes juntos — Taxi Driver, The Last Waltz e Touro Enraivecido, e ele trouxe algo raro e insubstituível a cada um deles. Lembro-me quando o Taxi Driver saiu e o Michael ficou conhecido como um ‘poeta das ruas’ (...) Foi o Michael quem controlou realmente a paleta visual do The Last Waltz, e no Touro Enraivecido ele e a equipa dele enfrentaram cada desafio — e houve muitos. Um dos maiores foi filmar a preto e branco, o que o Michael nunca tinha feito antes, um facto que ainda me surpreende. A relação dele com a câmara e a película que corria por ela era íntima, misteriosa, quase mística. Ele era um grande artista, e entristece-me que não vá poder vê-lo outra vez.”