Itália
Covid-19: no novo normal, “a noção de liberdade sofreu uma revolução”
Quando se instalou o “novo normal” em Itália, na primeira fase de desconfinamento — após o período mais agudo da epidemia de covid-19, entre 8 de Março e 8 de Maio —, Filippo Venturi sentiu que a sua liberdade, e a de todos os cidadãos, "sofreu uma distorção sem precedentes". Com o projecto Fragments of the Dream of a Quarantined Traveler in a Locked Country, o italiano tentou traduzir a sensação de impotência que marca a sua acção quotidiana em fotografia. "Sair de casa, viajar, conhecer novas pessoas" implica novos protocolos, novas regras, que Venturi nunca esperou ter de adoptar, de acatar. Durante este ano, Filippo tem tido sonhos recorrentes sobre esta nova realidade, repletos de sensações novas e algo estranhas. O título do projecto, que pode ser traduzido por Fragmentos de Sonhos de um Viajante em Quarentena num País em Confinamento, tradução livre, remete para esses sonhos, essas sensações.
Quando, na companhia de Ulisses, o filho de três anos, visitou o parque temático Italia in Miniatura, em Rimini — uma espécie de Portugal dos Pequeninos na versão italiana —, deparou-se com cenários que amplificaram a sua sensação de isolamento e de privação do espaço público. "Pensávamos que esses espaços nos pertenciam e que não nos podiam ser retirados ou tornarem-se irreconhecíveis", explica. Ao deparar-se com réplicas a duas dimensões de edifícios tipicamente italianos, com erros de construção que eram apenas visíveis de determinados ângulos, viu materializada a sensação de viver no "novo normal". "Acho que o que tenho tido nos últimos meses também pode ser sentido por outras pessoas, em Itália e noutros lugares. Mesmo que, na vida quotidiana, aconteça ouvir tantas opiniões discordantes, não tenho dúvidas que a relação das pessoas com os espaços e com a noção de liberdade sofreu uma revolução."