Benfica está entre uma alegria fugaz e o desastre num all-in
É nesta terça-feira, na Grécia, frente ao PAOK, que o Benfica joga boa parte da época desportiva e muito do futuro do clube, depois de um grande investimento. A entrada na Liga dos Campeões está, para já, dependente de uma vitória neste jogo.
Poucos contextos mentais são mais traiçoeiros para uma equipa de um desporto colectivo do que entrar para um jogo no qual uma derrota roçará o desastre e um triunfo será apenas “normal” e valerá um mero festejo fugaz, mais do que um coro de aplausos. E é em equilibrismo entre estas duas premissas que o Benfica entrará em campo nesta terça-feira, frente ao PAOK, em jogo da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
Financeira e desportivamente, estes 90 minutos de futebol são, para o Benfica, o tempo em que se joga o futuro próximo do clube, depois do maior investimento de sempre num plantel. E mesmo um triunfo na Grécia não garante nada ao Benfica, havendo, depois, um play-off por jogar frente ao Krasnodar.
Se dúvidas existissem sobre os contornos vitais deste jogo, Jorge Jesus tratou de as dissipar. “Quando cheguei ao Benfica pela primeira vez, a ambição era ser campeão nacional, porque eu nunca tinha sido. Agora já fui e a ambição não é ser só campeão nacional, é ir o mais longe possível na Europa. Esta ambição ninguém me pode tirar”, disparou, na antevisão da partida.
É a um só jogo
Poucas vezes na história o Benfica terá jogado tanto do seu futuro em apenas 90 minutos de futebol. Primeiro, porque as eliminatórias europeias costumam ser jogadas a duas mãos – desta vez, por constrangimentos pandémicos, será apenas um jogo em Salónica. Depois, porque financeira e desportivamente o clube está, em linguagem de póquer, em pleno all-in de um projecto sustentado na retoma da glória europeia.
E é aqui que entram os contornos de “desastre” de uma eventual derrota. Não propriamente pela falta de valor da equipa grega, mas porque o investimento feito pelo Benfica para esta temporada não só não se coaduna com uma eliminação perante o 73.º classificado do ranking da UEFA como, sobretudo, não permite que o clube passe a temporada 2020-21 sem jogar no palco supremo do futebol europeu.
Até porque, dirão os benfiquistas, se fosse para não ir à Champions então não seria necessário ir buscar Jorge Jesus. E muito menos gastar 77 milhões em contratações.
Quem coordena o sector desportivo dirá ao treinador que o clube precisa da legitimação desportiva dada por uma boa campanha na Champions. Quem lidera o sector da tesouraria dirá a Jesus que os milhões da prova europeia não são supérfluos e prescindíveis.
Jesus não garante reforços no “onze”
Apesar de reconhecer a pressão existente, Jesus – que voltará a liderar o Benfica num jogo oficial mais de cinco anos depois – recusou que a equipa possa sofrer com isso. E o treinador, em particular, muito menos.
“O que aumenta a pressão é termos uma eliminatória a um jogo, na qual temos responsabilidade de ganhar e passar. Tudo o resto [investimento] não traz pressão (…) se me perguntar a mim se a pressão diz alguma coisa, direi ‘zero’. Já estou habituado. Faz parte dos grandes treinadores, grandes jogadores e grandes equipas. Esses não têm pressão”.
Apesar dos contextos de grande pressão – e este é um deles –, os jogos de futebol ainda se decidem no campo. E, aí, o Benfica apresenta argumentos de peso. Por mind game ou por crença sincera no maior poderio “encarnado”, o treinador português Abel Ferreira, que orienta o PAOK, não teve problema em dar o favoritismo do jogo ao Benfica.
“O Benfica tem um bom treinador, bons jogadores e fez um dos maiores investimentos da história. E é favorito, não vamos esconder isso, mas o PAOK quer fazer história, tem o objectivo de passar à próxima fase e é isso que vamos procurar fazer”, afirmou o técnico português, na conferência de imprensa de antevisão da partida de terça-feira, em Salónica.
Para este jogo, Jorge Jesus, treinador do Benfica, não poderá utilizar o sérvio Andrija Zivkovic. E este detalhe atesta a diferença no valor individual das equipas: Zivkovic é o grande reforço do PAOK para esta temporada, vindo do Benfica, que deixou sair o jogador a custo zero.
Apesar desta alta valia individual e do reforço massivo do plantel, Jesus deixou um alerta para os jogadores: não há “lugar cativo” para quem custou muitos milhões.
“Eles são reforços não é para jogar no “onze”, é para fazerem parte do plantel. Claro que alguns não deixam dúvida e vão fazer parte do “onze”, mas não quer dizer que todos cheguem aqui e tenham lugar”, explicou.
E é por aqui que o Benfica terá de olhar para este jogo: ter um plantel de muitos milhões ajuda, mas nada garante à partida. E achar que sim é o primeiro passo para uma desilusão.