Putin perde maioria em Tomsk, na Sibéria, onde Navalny foi envenenado
Rússia Unida conseguiu uma vitória esmagadora, no entanto, na Sibéria, aliados de Alexei Navalny foram eleitos. Estratégia de voto inteligente tirou maioria ao partido de Vladimir Putin em Tomsk, onde Navalny esteve internado depois de ser envenenado, e em Novosibirsk.
O Rússia Unida, partido que apoia o Presidente Vladimir Putin, garantiu uma vitória esmagadora nas eleições locais de domingo, mas perdeu a maioria nas assembleias locais nas cidades de Tomsk e Novosibirsk, na Sibéria, uma vitória simbólica para os aliados de Alexei Navalny, principal opositor do chefe de Estado russo.
Em Tomsk, onde Navalny foi envenenado no passado dia 20 de Agosto, Ksenia Fadeyeva, de 28 anos, foi eleita juntamente com Andrei Fateev, de 32. Já em Novosibirsk, a terceira maior cidade da Rússia, Sergei Boiko, de 37 anos, conseguiu um lugar na assembleia local, juntamente com outros quatro aliados de Navalny e nove candidatos independentes, segundo a BBC.
“As pessoas estão cansadas das autoridades. Não é possível sentarem-se no trono durante 20 anos, agarrados ao poder, a roubar sem parar, e ficarem impunes”, disse Ksenia Fadeyeva, citada pela Reuters.
Os primeiros resultados oficiais começaram a ser divulgados durante esta segunda-feira e parecem confirmar a vitória esmagadora do partido do poder, anunciada previamente pelo ex-presidente Dmitri Medvedev, líder do Rússia Unida, e do secretário Alexei Turchak. No entanto, Tomsk e Novosibirsk, na Sibéria, parecem ser a excepção.
Uma vez que na generalidade das regiões que foram a votos os candidatos do Rússia Unida não enfrentam uma oposição real, mas sim partidos tolerados pelo Kremlin que apoiam o partido do poder, a oposição optou por uma estratégia de voto inteligente, isto é, o apoio ao voto no opositor melhor colocado para derrotar o candidato do partido de Putin.
Em Tomsk, uma cidade com muitos estudantes, diz a Reuters, pelo menos 16 dos candidatos referenciados pela oposição foram eleitos, e o Rússia Unida apenas conseguiu 11 dos 37 dos lugares em disputa, segundo os resultados parciais divulgados até agora, perdendo a maioria. Já em Novosibirsk, o partido do poder apenas conseguiu 22 dos 50 lugares.
Pela primeira vez, as eleições locais decorreram durante um período de três dias. O grupo de monitorização independente Golos, segundo a BBC, reportou várias irregularidades nas eleições, sobretudo nos dois primeiros dias (11 e 12 de Setembro) de votação.
De acordo com o mesmo grupo, as autoridades impediram os observadores de acederem a documentos oficiais e de fazerem reclamações, e suspeita-se de que as urnas tenham sido enchidas de papéis e que muitos votos reais tenham sido trocados. Pelo menos mil queixas de irregularidades foram apresentadas.
As eleições locais de domingo, que levaram 40 milhões de russos às urnas para eleger governadores e assembleias de mais de duas dezenas das 85 regiões do país, foram o primeiro grande teste após o referendo constitucional de Julho que permitiu a Vladimir Putin continuar como chefe de Estado até 2036 e foram ensombradas pelo envenenamento de Alexei Navalny há algumas semanas, quando o opositor do Presidente russo foi à Sibéria fazer campanha.
Depois de ter bebido um chá no aeroporto, Navalny sentiu-se mal e foi internado de urgência, em coma. Foi transportado para a Alemanha, e os testes realizados num laboratório militar alemão determinaram que o opositor de Putin foi envenenado com um agente de nervos da família do Novichok, uma arma química altamente tóxica, desenvolvida na União Soviética nas décadas de 1970 e 1980.
Na semana passada, os médicos do Hospital Charité, em Berlim, onde Navalny está a ser tratado, anunciaram que o advogado saiu do coma induzido e que o seu estado de saúde está a melhorar, apesar de não ser possível prever as consequências do envenenamento. Esta segunda-feira, a Alemanha anunciou que laboratórios de três países confirmaram que foram encontrados indícios da utilização do agente de nervos da família do Novichok em Alexei Navalny.