“O Interruptor está ligado”. É assim anunciada a chegada de mais um projecto de jornalismo digital independente, focado na cultura, que tenciona privilegiar um tratamento da informação meticuloso na perseguição de novas ideias. O novo lançamento editorial, de periodicidade quinzenal, “olha para o mundo pelas lentes da cultura, tentando que nunca fiquem embaciadas”, tem como bases fundamentais “o documentário, a arte, a ciência e a experimentação” e adopta formatos longos, pode ler-se no comunicado de imprensa.
A ideia surgiu há cerca de “um ano e meio ou dois”, conta Rute Correia, co-fundadora e directora do Interruptor, que foi jornalista de rádio durante vários anos, na área da música. Partiu de uma vontade de levar a cabo projectos “mais documentais, com um formato mais ligado ao jornalismo de dados”, explica. Depois de terminar uma formação em programação e análise de dados nas vésperas do surto pandémico da covid-19, Rute viu uma oportunidade para “experimentar algumas coisas e levar para a frente o projecto”.
A equipa é constituída apenas por três pessoas: Rute Correia na produção de conteúdos, Ricardo Correia na fotografia e sonoplastia, e Ciaran Edwards na programação e web design. Depende de bolsas e donativos de apoio ao desenvolvimento de projectos, contando já com alguns assinantes na primeira semana — mas não fecha as portas a patrocínios publicitários no futuro.
Propõe-se, então, à concretização de artigos de profundidade no âmbito da cultura, para já com foco em Portugal. Descartando as peças de actualidade, a cobertura de eventos e as críticas culturais, o Interruptor pretende conduzir investigações jornalísticas “mais a fundo”, aliadas a um “esforço grande em privilegiar formatos e abordagens que tirem partido da evolução tecnológica”. Rute destaca o código (de programação) aberto da revista como “um ponto diferenciador em Portugal”, em nome da transparência no jornalismo.
Nasce no seguimento das pegadas daqueles que têm trabalhado para o desenvolvimento de um sector de órgãos de comunicação social independentes e numa altura em que a produção cultural é cada vez mais emergente. É “fruto da inspiração” em publicações digitais como o Shifter, o Jornal Mapa, o Gerador, o Fumaça e o Divergente. “Não são os únicos que têm forçado a mudança neste universo, mas são aqueles que, de facto, têm cumprido as promessas de evolução e de inovação que os media tradicionais tendem a apregoar, mas que rápida e sucessivamente se esquecem de implementar”, enuncia o editorial de lançamento da revista.
A revista multimédia conta já com três artigos lançados: Consegue um algoritmo distinguir os heterónimos de Fernando Pessoa?, uma retrospectiva do alargamento do espaço dado à música portuguesa na viragem do milénio e uma análise de 16 anos de tabelas de álbuns. Os últimos dois estão incluídos numa série denominada Estamos a ouvir mais música portuguesa?.
Inicia-se também, ainda esta semana, uma série em formato de podcast, Até onde chega a cultura?, que pretende aferir o alcance de equipamentos culturais em Portugal. O podcast do Interruptor pode ser ouvido via feed RSS, Spotify ou Pocket Casts.
Texto editado por Ana Maria Henriques