O icónico Berghain reabriu, mas com arte na pista de dança

Um dos clubes mais conhecidos da Europa converteu-se temporariamente em galeria, única forma de voltar à actividade.

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É um dos clubes nocturnos mais conhecidos da Europa e do globo e o mais icónico de Berlim. Como aconteceu um pouco por todo o mundo, o Berghain, conhecido como meca da música electrónica, encerrou no final de Fevereiro devido à pandemia, o mesmo tendo acontecido com os restantes clubes, mas também com teatros, cinemas, museus ou salas de espectáculo. Em Junho, alguns museus e galerias foram reabrindo, com restrições, mas os clubes mantiveram-se encerrados. E foi aí que os proprietários do Berghain, Michael Teufele e Norbert Thurmann, resolveram aproximar-se dos coleccionadores de arte Christian e Karen Boros com a ideia de realizarem uma grande exposição no espaço, com artistas que operam em Berlim vindos dos mais diversos países.

Studio Berlin, assim se chama a exposição, teve inauguração na quinta-feira, prolongando-se até Dezembro – ou mais além, dependendo da evolução da pandemia –, e é uma mostra que pretende reflectir sobre os espaços onde a arte emerge e as ligações entre cultura de música de dança e arte, sendo ao mesmo tempo uma celebração das ideias e das pessoas que deram vitalidade à cidade nas últimas décadas. A curadoria é de Juliet Kothe, que reuniu obras de 115 artistas radicados em Berlim, a maior parte das quais criadas desde Março. Segundo o New York Times, a envergadura da operação é tal que há mais artistas a participar nesta exposição do que na Bienal internacional de arte de Berlim, que será inaugurada este sábado.

As reservas para a exposição até ao final do mês de Setembro já se encontram esgotadas, tendo a inauguração constituído um acontecimento social – o actor Keanu Reeves, actualmente a filmar a nova epopeia de Matrix na cidade, foi um dos visitantes. O Berghain, conhecido pelas suas singulares instalações (é uma antiga central eléctrica), pelas sessões intermináveis que se prolongam pelo dia adentro, pelos cartazes que mais parecem festivais, pela porta difícil e pela política de não permitir câmaras de telemóveis, está assim, embora temporariamente, transformado em galeria de arte. Uma galeria especial, pela sua enorme dimensão, e porque tanto espaços interiores como exteriores foram ocupados. No exterior do edifício sobressai, aliás, uma frase inscrita ("Morgen Ist Die Frage”, ‘o amanhã é a questão’) pelo artista Rirkrit Tiravanija, que remete para os tempos de incerteza que se vivem.

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O famoso sistema de som do clube também se faz ouvir, mas, em vez de música tecno, da mais dançável à experimental, o que se ouve é uma peça sonora do artista nigeriano Emeka Ogboh. Esculturas de Dirk Bell, Petrit Halilaj e Álvaro Urbano, instalações de Alicja Kwade ou Carsten Nicolai, fotografias de Wolfgang Tillmans, ele próprio uma figura habitual no Berghain, ou vídeos de Sven Marquardt, são outros trabalhos expostos. Nas traseiras do clube, num grande espaço que abre apenas para eventos especiais, encontram-se obras de artistas mais consagrados, como o dinamarquês Olafur Eliasson, A.A. Bronson ou a inglesa Angela Bulloch. Para além do seu valor artístico, a exposição tem sido enaltecida por reflectir as transformações da cidade desde os anos 1990, quando, no pós-queda do Muro de Berlim, muitos espaços industriais (como esta central eléctrica) foram reaproveitados para a arte.

Claro que a presente exposição só acontece pelo contexto que se vive. Para além de apresentar o espaço a outros públicos, reafirmando o papel de agente cultural do clube, permite também que os funcionários do Berghain regressem à actividade, alguns deles agora reconvertidos em guias da exposição. Nos últimos meses têm-se sucedido as notícias que dão conta do repensar da funcionalidade de muitos destes espaços, e Portugal não é excepção, com alguns tentando confirmar o seu papel de dinamizadores culturais. Mas outros encaram o encerrar de portas ou a reconversão por inteiro. E muitos estão já a transformar-se, por exemplo, em ginásios.

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