Sobretudo um anjo
Um “caso” escabroso que marcou uma cidade do Norte de França serviu de base ao novo filme de Arnaud Desplechin. Histórias de solidão e abandono na esquadra de polícia da violenta cidade de Roubaix. Mas o realismo transfigura-se em fábula. Sobre uma humanidade redentora. As personagens esvoaçam dois palmos acima do chão. Há anjos que zelam por nós: Roubaix, Misericórdia.
Quando um dia Arnaud Desplechin chegou a casa e fez o que habitualmente faz, ligar a televisão, o mundo evidenciou-se. No pequeno ecrã, a palavra “Roubaix”, nome da cidade do Norte de França onde Arnaud nasceu há 59 anos e de onde se escapuliu aos 16, quando deixou o quarto que o protegia do mundo e rumou a Paris para viver o seu “stendhaliano” destino romântico e realista. Foi em Paris que encontrou a sua voz de cineasta, foi aí que, em 1996, em Comment Je me Suis Disputé... (ma vie sexuelle), como todo o nado e criado numa cidade de província que queria integrar-se na capital e perder o sotaque, inventou Paris e uma galeria de personagens (os corpos de Mathieu Amalric, Emmanuelle Devos ou Jeanne Balibar revelaram-se com ele...), que eram jovens filósofos com os livros certos debaixo do braço e na ponta da língua.
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