Bielorrússia: opositora Maria Kolesnikova diz que foi ameaçada de morte
Está detida por suspeita de “incitamento contra a segurança nacional” e quer processar o Estado e as forças de segurança, que lhe disseram que ou se ia embora do país a bem, ou “aos bocados”.
Maria Kolesnikova, uma dirigente da oposição da Bielorrússia que está detida, contou nesta quinta-feira ter receado pela vida quando homens mascarados a levaram de uma rua de Minsk e lhe disseram para deixar o país voluntariamente, caso contrário iria à força, “inteira ou aos bocados”. Nesta quinta-feira, Kolesnikova pediu ao Comité de Investigação a abertura de um processo criminal contra os serviços de segurança.
Ludmila Kazak, advogada de Maria Kolesnikova, entregou nesta quinta-feira uma declaração da sua cliente ao responsável pelo Comité de Investigação (instância jurídica da Bielorrússia), Ivan Noskevich, para que seja iniciado um processo judicial contra os desconhecidos que a levaram à força num veículo até à fronteira com a Ucrânia, onde tentaram fazê-la sair do país.
Segundo a advogada, Kolesnikova foi vítima de pressões psicológicas: foi ameaçada de morte, ameaçada com uma pena de 25 anos de prisão e vítima de uma tentativa de expulsão forçada do país.
“Ameaçaram tirar-me a vida. Disseram-me que, se eu não abandonasse voluntariamente o território bielorrusso, acabaria por ser expulsa, inteira ou aos bocados. Também me ameaçaram com uma pena de prisão de 25 anos e disseram que me iam provocar problemas nos centros de detenção”, contou Kolesnikova, através da advogada.
A dirigente da oposição, membro do Conselho de Coordenação para a transição do poder, foi sequestrada na segunda-feira, no centro de Minsk, por homens com a cabeça coberta que a obrigaram a entrar numa carrinha, tendo sido depois transportada para local desconhecido.
No dia seguinte foi levada para junto da fronteira com a Ucrânia juntamente com outros membros da oposição, que foram obrigados a abandonar o país.
De acordo com a denúncia, Kolesnikova rasgou o passaporte para evitar atravessar a fronteira.
Neste momento Maria Kolesnikova está a ser interrogada num centro de reclusão, acusada de ter entrado ilegalmente na Bielorrússia depois de ter destruído o passaporte. Por isso, é considerada suspeita de incitamento a atentado à segurança nacional.
Através da advogada, a opositora do presidente Lukashenko identifica funcionários do KGB (os serviços de segurança bielorrussos mantiveram a designação da polícia política da União Soviética) e do Grupo contra o Crime Organizado e Corrupção (GUBOPik), do Ministério do Interior.
A advogada acusou os funcionários do Estado de “sequestro, cárcere ilegal e ameaças à vida”, crimes que estão estipulados no Código Penal bielorrusso.
“Depois de não ter obedecido à ordem para sair do país fui metida numa cela durante uma hora”, diz o testemunho.
Antes destas declarações, Viktor Babariko (que se candidatou à presidência, contra Lukashenko, mas foi detido antes da votação) fez denúncias idênticas através da página oficial que mantém na Internet. Kolesnikova foi directora de campanha de Viktor Babariko.
A maior parte das figuras da oposição que se envolveram na contestação que se seguiu às eleições presidenciais de 9 de Agosto estão presas ou no exílio. A oposição acusa o regime de se manter no poder através de fraudes eleitorais.
O presidente Lukashenko referiu-se vagamente, na quarta-feira, à possibilidade de realização de novas eleições, mas só depois de uma reforma constitucional. Porém, nesta quinta-feira, afirmou que “ninguém o vai afastar do poder” sob pressão. “Muitas vezes sou criticado por dizer que ‘ninguém me tira o poder’. É uma crítica bem fundamentada, não foi para [abandonar o poder] que as pessoas me escolheram”, afirmou Lukashenko.
A Bielorrússia é palco de manifestações desde 9 de Agosto, quando Alexander Lukashenko conquistou um sexto mandato presidencial, numas eleições consideradas fraudulentas também por parte da comunidade internacional.
Nos primeiros dias de protestos, a polícia deteve cerca de sete mil pessoas e reprimiu centenas, suscitando protestos internacionais e ameaças de sanções.
Os Estados Unidos, a União Europeia e países vizinhos da Bielorrússia rejeitaram a vitória eleitoral de Lukashenko e condenaram a repressão policial, exortando Minsk a estabelecer um diálogo com a oposição.