Santuário de Fátima envia carta a 308 funcionários para reflectirem sobre situação laboral

Santuário quer cortar cerca de 50 postos de trabalho. Ausência de peregrinos significa perda de receita. Hotelaria de Fátima também pondera despedir.

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Daniel Rocha

O “convite” foi endereçado a cada um dos 308 trabalhadores do Santuário de Fátima. Como ponto de partida de um “processo de reestruturação” que tem como objectivo fazer frente a uma “queda muito significativa” nas receitas, o santuário prevê cortar cerca de 50 postos de postos de trabalho.

Ao PÚBLICO, a porta-voz do santuário, Carmo Rodeia, diz que “é prematuro falar em números, uma vez que o plano de reestruturação está numa fase ainda muito inicial”. No entanto, diz que, “no final do processo”, o número de trabalhadores afectados “não chegará a meia centena”. Para já, “todos os trabalhadores foram informados da situação que o Santuário atravessa e foram convidados, por assim dizer, a reflectir sobre a sua situação de forma voluntária”, diz. A porta-voz refere que, para já, não é possível especificar que funções serão mais afectadas neste processo de redução de postos de trabalho.

A medida pretende enfrentar a “queda muito significativa” de receitas que o Santuário de Fátima está a registar por causa da pandemia. Carmo Rodeia lembra que metade de Março, Abril e Maio foram meses “sem receitas”. “As nossas receitas dependem de peregrinos. Não havendo peregrinos, não existem receitas”, aponta. A quebra que mais se faz notar é nos donativos, explica, embora o santuário também veja a sua componente de alojamento afectada. No entanto, a porta-voz não diz qual a dimensão da queda, nem em valores totais, nem percentuais. De recordar que o Santuário não torna as suas contas públicas desde 2006. Carmo Rodeia sublinha que foi “uma decisão Conselho Nacional do Santuário de Fátima” e que as contas “são auditadas anualmente por uma entidade externa e aprovadas pelo conselho nacional”.

A redução do número de trabalhadores não é a única medida tomada pelo santuário para lidar com as perdas. Há também um corte de outros “custos fixos”, como a redução da actividade pastoral, suspensão de retiros e conferências. “O plano de reestruturação vem a ser posto em marcha desde o início da pandemia, altura em que começámos a perceber que havia uma diminuição expressiva do número de peregrinos”, diz a porta-voz. Nos meses de Julho e Agosto, essa diminuição foi de 95% nos grupos organizados que chegaram a Fátima, “com particular incidência nos estrangeiros, faz notar a responsável.

À quebra de receitas acrescem outras despesas adicionais, como mais custos como o funcionamento da Basílica da Santíssima Trindade, onde todos os dias são feitas “todas as celebrações do santuário, por ser um espaço mais amplo e por causa das questões de segurança e de saúde”, exemplifica. Soma-se o peso de investimentos em infra-estruturas que o santuário fez a pensar na programação do centenário, celebrado em 2017

Hotelaria pondera despedir 

Os cortes em Fátima não devem ficar confinados ao santuário. Contactada pelo PÚBLICO, a presidente da Associação Empresarial Ourém - Fátima (ACISO), Purificação Pereira Reis, admitiu que algumas das unidades hoteleiras procurem reduzir o número de trabalhadores para enfrentar a quebra nas dormidas.

Os empreendimentos turísticos do concelho de Ourém estão com uma taxa de ocupação que ronda os 20%, uma percentagem agravada por alguns dos 56 estabelecimentos terem decidido não abrir portas, afirma a dirigente associativa.

Perante este cenário, “os empresários estão apreensivos”, diz Purificação Pereira Reis. E, “naturalmente, têm que tomar decisões, umas mais simpáticas, outras menos simpáticas, pelo que vai haver alguma redução de postos de trabalho”, prevê. A dirigente diz que este ano praticamente não se notou a “época alta”, pelo que também não houve reforço do pessoal ao serviço nos meses de Verão.

Admitindo que o turismo “animou um pouco” em Agosto, diz não haver “confiança para a realização de viagens sobretudo no mercado internacional”, que tem um peso de 70% na hotelaria de Fátima.

Tal como o santuário, ao depender muito dos grupos organizados, a hotelaria e restauração de Fátima estão ainda mais fragilizados. Há um peso expressivo de grupos que percorrem o santuário português, Santiago de Compostela e Lourdes no mesmo circuito, explica Purificação Pereira Reis. Sendo “as regras diferentes de país para país, os operadores estão com dificuldades”, diz.

“As empresas, na sua grande maioria, recorreram ao lay-off simplificado, o que as ajudou a manter-se activas” durante uns meses, diz. Mas adverte que “as medidas que, recentemente foram implementadas não respondem a necessidade do sector”. Assim, os empresários preparam “decisões para tentar assegurar a sobrevivência das empresas, num percurso que se avizinha com duração significativa”, refere. É que até chegar até Março ou Abril, “a travessia ainda é longa”.

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