Um momento de publicação independente: Hypnotic Highway
Fanzines, edições de autor, livros de artista — nesta rubrica queremos falar de publicação independente. Paula Roush apresenta Hypnotic Highway.
Apresenta-nos a tua publicação.
O meu trabalho chama-se Hypnotic Highway.
Quem são os autores?
Paula Roush: fotografia, texto e design. E também o produzi e publiquei através da minha editora: Msdm Publications
Do que quiseste falar?
Hypnotic Highway ("Auto-estrada Hipnótica ou dos Hipnóticos") é um fotolivro sobre a crise dos hipnóticos. A pandemia das drogas prescritas estava a ter um impacto brutal nos Estados Unidos e na Europa, antes de o novo coronavírus ter desviado a atenção para a pandemia do vírus.
Viajo regularmente entre Londres, onde moro, e Lisboa, onde a mãe morava sozinha, quando em 2018 me pediu ajuda. Eu não imaginei que viria a encontrar dentro da casa de família uma paisagem de remédios e alucinações: a Auto-estrada Hipnótica. As fotos foram tiradas entre o apartamento de Lisboa e o Hospital de Santa Maria, testemunhando o impacto do Zolpidol — uma droga prescrita para a insónia — na condição física e psicológica da mãe.
Zolpidol é o nome pelo qual o Ambien é conhecido na Europa, uma droga prescrita cujos efeitos devastadores estão bem documentados em inúmeros casos levados a tribunal e relatos de imprensa internacional. Enquanto eu cuidava da mãe, mergulhei na pesquisa, apenas para descobrir que a sua médica de família a tinha tornado dependente do mesmo medicamento que matou o actor Heath Ledger aos 28 anos e destruiu cinco anos da vida do músico e rapper Eminem quando ele tinha 30 anos. A mesma droga que transformou tantas pessoas com vidas familiares e carreiras regulares em zombies-ambien: pessoas sem lembrança das suas acções sob a influência da medicação, algumas das quais eu encontrei nas salas de espera do Hospital de Santa Maria, também à procura de ajuda.
Li o relatório Living With A Prescription Drug Addict Mother Compelled Me To Fight Big Pharma and Win (“Vivendo com uma mãe viciada em drogas prescritas motivou-me a combater as grandes empresas farmacêuticas e a sair vitoriosa”) da advogada Susan Chana Lask, acerca da sua Ambien Class Action I contra a Sanofi Aventis, a empresa farmacêutica por trás da epidemia hipnótica; esse texto ajudou-me a identificar o impacto nefasto da empresa cujos logótipos eu encontrei espalhados pela casa, impressos nos sacos plásticos vendidos pelas farmácias locais com os comprimidos lá dentro. Também me inspirou o activismo e fotografias da fotógrafa Nan Goldin, detalhando sua dependência do Oxycontin e a sua campanha contra a família Sackler da Purdue Pharma, a empresa farmacêutica por trás da epidemia de opióides.
O corpo físico da mãe não sobreviveu à crise dos hipnóticos e o diário que comecei como registo de nosso tempo juntas faz agora parte do fotolivro, que se trata de um ensaio fotográfico pessoal, assim como uma chamado à acção. Como Susan Chana Lask escreveu com tanta eloquência: “Os médicos que mataram minha mãe continuaram a praticar medicina após a sua morte. Eles nunca perguntaram como ela se encontrava. Eles são traficantes de drogas.”
Questões técnicas: quais os materiais usados, quantas páginas tem, qual a tiragem e que cores foram utilizadas?
O livro é impresso a laser, a preto e branco, em papel reciclado. Tem 108 páginas, 33 fotografias com fotografias adicionais da família e de pesquisa de arquivos. Mede 16 por 22 centímetros fechado. A encadernação é copta e é protegido por uma caixa/invólucro. A primeira edição é de 88 cópias (a idade da mãe.)
Onde está à venda e qual o preço?
Está a venda no Atelier Pop-Up no Palácio Pancas Palha, em Lisboa, que também tem outras das minhas publicações e edição. Custa 80 euros.
Porquê fazer e lançar edições hoje em dia?
Cada projecto de edição tem um porquê diferente, que une a pesquisa fotográfica e o tema com o desejo de comunicar com os públicos. No caso deste livro, há a energia do activismo, a luta pelo direito à saúde e bem-estar sem a ameaça de interferência das corporações farmacêuticas nesse direito humano. O fotolivro oferece ao fotógrafo a possibilidade de apresentar a pesquisa aprofundada relacionada com um tema urgente de uma forma independente.
Recomenda-nos uma edição de autor recente lançada em Portugal.
Diário III de Isabel Baraona. Aqui fica a apresentação: “Os desenhos, reunidos neste modesto volume A4, são – à revelia do que inicialmente previra – uma espécie de diário da quarentena. Há 20 exemplares especiais onde incluí as folhas de papel químico que usei para fazer os desenhoa originais, e que estão reservados para as primeiras encomendas.”