Federação dos Médicos tem conhecimento de escala para lar no Barreiro e alega que recursos do SNS são “deficitários”
FNAM argumenta que recursos humanos do SNS “não são suficientes para assegurar os cuidados de saúde à população e ainda colaborar no combate à pandemia nas suas diferentes áreas de intervenção”, mas mostra disponibilidade para negociar.
A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) enviou, nesta quinta-feira, um comunicado às redacções, dizendo ter tido “conhecimento de que o Ministério da Saúde terá solicitado a elaboração de uma escala composta por médicos de família para prestação de cuidados a utentes de um lar no Barreiro”.
Na nota, intitulada “Médicos de família deslocados para lar, deixando utentes sem assistência?”, a FNAM escreve ainda que “pretende saber como pensa” a ministra da Saúde e o Governo “garantir a assistência aos utentes dos lares privados e do sector social”.
Argumenta que “os recursos humanos do Serviço Nacional de Saúde nos cuidados de saúde primários, deficitários, não são suficientes para assegurar os cuidados de saúde à população e ainda colaborar no combate à pandemia nas suas diferentes áreas de intervenção”, mas mostra disponibilidade para negociar.
“A FNAM, mais uma vez, manifesta a sua disponibilidade para negociar e discutir formas de intervenção neste ou em qualquer outra ERPI (Entidade Residencial para Pessoas Idosas), que realmente protejam a saúde dos utentes institucionalizados e valorizem o trabalho dos médicos, sem pôr em risco os cuidados prestados à população em geral”, lê-se.
O PÚBLICO já pediu uma reacção ao Ministério da Saúde a este comunicado da FNAM.
Em causa, está o lar de idosos São João (da Santa Casa da Misericórdia local), onde um surto de covid-19 infectou mais de meia centena de utentes e funcionários e provocou quatro mortes.
Na segunda-feira, o presidente da União de Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos, disse que “médicos do centro de saúde do Barreiro” se terão “recusado a dar apoio” ao lar. “Os médicos não explicitaram as razões para a [alegada] recusa. Foi a provedora da Santa Casa de Misericórdia do Barreiro que nos comunicou a situação na semana passada e nós não queremos ser acusados do crime de omissão de auxílio”, afirmou.
No dia seguinte, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo desmentiu esta acusação, garantindo que aqueles residentes foram acompanhados presencialmente por um médico e uma enfermeira do Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) Arco Ribeirinho “nos dias solicitados” pela provedora da instituição.
Por lei, os lares de idosos não são obrigados a ter médicos, apenas enfermeiros – um por cada 40 utentes, ou um por cada 20, no caso de serem pessoas com dependências, segundo explicou Sérgio Branco, presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros. Mas em Abril, a ministra da Saúde determinou, por despacho, que os doentes com covid-19 residentes em lares e cuja situação clínica não exija internamento hospitalar passavam a ser acompanhados diariamente pelos médicos de família e pelos enfermeiros dos respectivos agrupamentos de centros de saúde, em articulação com os hospitais da sua área de referência.