Putin diz que tem “força policial de reserva” para ajudar Lukashenko
Presidente russo considera que ajuda militar ou policial a Lukashenko só será activada caso a situação fique “fora de controlo”. Ministros dos Negócios Estrangeiros reunidos esta quinta-feira para discutir lista de sanções.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou esta quinta-feira que está disponível para enviar assistência militar ou policial para apoiar o seu homólogo bielorrusso, Aleksander Lukashenko, que enfrenta a maior contestação desde que assumiu o poder há 26 anos. No entanto, Putin sublinhou que a situação actual na Bielorrússia não exige tal intervenção.
“Claro que temos certas obrigações com a Bielorrússia e a questão que Lukashenko levantou foi se providenciaríamos a ajuda necessária”, disse Putin, em entrevista à televisão estatal russa, referindo-se ao pedido de ajuda feito pelo Presidente bielorrusso há duas semanas.
“Lukashenko pediu-me para criar uma força policial de reserva e foi isso que fiz. Mas concordámos que não seria utilizada a não ser que a situação ficasse fora de controlo”, afirmou o Presidente russo. O Conselho de Coordenação, liderado por Svetlana Tikhanouskaia, condenou as declarações de Moscovo, considerando-as “inaceitáveis”, segundo um comunicado citado pela Reuters.
Apesar das acusações dirigidas ao Ocidente, particularmente à União Europeia (UE), de tentativa de interferência nos assuntos internos de Minsk, uma tese que tem sido repetida constantemente por Lukashenko, a Rússia tem estado na expectativa sobre como continuará a contestação ao regime bielorrusso, e na semana passada disse que não equacionava o envio de ajuda militar.
Por isso, as declarações de Putin nesta quinta-feira deixaram os líderes europeus em estado de alerta, enquanto os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE se reuniam em Berlim, para discutir a lista de figuras do regime de Lukashenko a quem serão impostas sanções.
A condenação mais veemente veio da Polónia, um dos países europeus que mais levantado a voz contra o regime de Lukashenko. “O Governo polaco exorta a Rússia a abandonar imediatamente os planos de uma intervenção militar na Bielorrússia sob a falsa desculpa de ‘restaurar o controlo’ – um acto hostil, que viola o direito internacional e os direitos humanos do povo bielorrusso, que deve ser livre de decidir o seu próprio destino”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawieck.
Juntamente com Varsóvia, a exigência de medidas mais duras e de uma atitude mais pró-activa de Bruxelas contra o regime tem sido encabeçada pela Lituânia, onde Tikhanouskaia está exilada desde as eleições de 9 de Agosto. Numa entrevista ao Politico, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Linas Linkevicius, criticou a UE pela resposta lenta aos desenvolvimentos em Minsk, temendo um impasse. “Não chega julgar, avaliar, condenar. Têm de haver acções”, disse o ministro lituano. “Temos de acelerar”, reiterou.
Nas ruas de Minsk, continuam as manifestações. Esta quinta-feira, foi formado um cordão humano em frente a uma igreja onde, no dia anterior, mais de 100 pessoas foram trancadas pela polícia, numa acção para interromper os protestos. Nas redes sociais, foram partilhados vídeos de jornalistas que se preparavam para fazer a cobertura das manifestações a serem detidos – segundo a Reuters, terão sido cerca de 20, que viram os seus telefones e documentos confiscados. O ministro do Interior, no entanto, negou que os jornalistas tivessem sido detidos e disse que apenas foram encaminhados para a esquadra para que os seus documentos fossem validados.
Depois de a Prémio Nobel da Literatura Svetlana Alexievich ter sido interrogada na quarta-feira pelas autoridades bielorrussas pela sua participação no Conselho de Coordenação – um órgão político criado pela oposição que Lukashenko acusa de tentar tomar o poder ilegalmente –, esta quinta-feira foi a vez de Maria Kolesnikova ser questionada. Dois membros do conselho estão detidos desde segunda-feira, a cumprir uma pena de prisão de dez dias.
Lukashenko, segundo a agência Belta, discutiu com Putin o refinanciamento da dívida pública bielorrussa num valor de mil milhões de dólares, e recusou o diálogo com a oposição, classificando os manifestantes que pedem a sua saída nas ruas como “rufias” que “não querem diálogo”.