Vacinas para a gripe são poucas, avisa Fundação do Pulmão

Especialistas querem que Governo forneça protecção ao maior número possível de pessoas, uma vez que este Outono-Inverno iremos confrontar-nos simultaneamente com o coronavírus. Governo diz que fez a maior aquisição de sempre.

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Marco Duarte

Os dois milhões de vacinas compradas pelo Governo para a gripe não são suficientes, avisa a Fundação Portuguesa do Pulmão, que defende que esta protecção seja utilizada “no maior número possível de pessoas”.

No final de Junho a Secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, anunciou a aquisição “maior compra de sempre de vacinas contra a gripe em Portugal”. A estes dois milhões, que serão fornecidos gratuitamente nos centros de saúde, juntar-se-á mais meio milhão de vacinas disponibilizadas nas farmácias, mediante pagamento. Em comunicado divulgado esta sexta-feira, a Fundação Portuguesa do Pulmão diz que é insuficiente e explica porquê: só as pessoas a quem a vacina é aconselhada por terem mais de 60 anos somam 2,2 milhões, número a que é preciso acrescentar outros grupos de risco, como os diabéticos (um milhão) e quem sofre de doença pulmonar obstrutiva crónica (750 mil).

“Além disso, este ano iremos confrontar-nos com uma situação inédita: vamos ter dois tipos diferentes de vírus a circular, o da gripe, que tem quatro estirpes, e o coronavírus”, observa um dos vice-presidentes desta organização, o especialista em Imunoalergologia e Pneumologia Jaime Pina. Embora não exista qualquer evidência científica de que esta vacina confira algum tipo de protecção contra o covid-19, diz o mesmo dirigente, mais gente protegida contra a gripe significa menos gente a acorrer aos serviços de saúde ao mesmo tempo para descobrir qual dos vírus contraiu.

Jaime Pina explica que nada impede que quem for vacinado contra a gripe seja mais tarde imunizado contra o coronavírus, quando a respectiva vacina ficar disponível: “Não há problema nenhum”.

A Fundação Portuguesa do Pulmão acha também importante que a campanha para proteger da influenza seja iniciada logo no início de Outubro, como de resto sucedia no passado, uma vez que existem sinais de que a procura vai aumentar, nomeadamente as inscrições para a vacina que já começaram a ser feitas nas farmácias. Assim evitar-se-iam atropelos.

Nos últimos anos a vacinação tem tido início só em meados de Outubro, mas há dois dias a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, já adiantou que desta vez o arranque da campanha será antecipado para os primeiros dias deste mês, estando a ser equacionada a criação de novos pontos de administração das vacinas, como pavilhões municipais.

Já a Fundação Portuguesa do Pulmão entende que o Ministério da Saúde devia fazer um protocolo com as farmácias para que também elas pudessem disponibilizá-las gratuitamente. Desta forma evitar-se-ia que os centros de saúde tivessem de empregar tantos recursos humanos nesta tarefa, ficando mais disponíveis para “desempenhar tarefas mais complexas, mais exigentes e urgentes”, como a realização de consultas. 

Na conferência de imprensa desta sexta-feira a directora-geral da saúde voltou a falar sobre o tema, respondendo às dúvidas levantadas pelos pneumologistas. Graça Freitas disse que esta “é uma vacina que é produzida duas vezes por ano, uma vez para o hemisfério norte e outra vez para o hemisfério sul” e que “há um número limitado de doses”.

“Os países têm uma quota habitual e Portugal este ano conseguiu aumentar muito, apesar de tudo, a sua quota. O que nós conseguimos foi cerca de 2,5 milhões de doses, dois milhões para o Serviço Nacional de Saúde”, revelou.

Graça Freitas sublinhou que, “à partida, a gripe este ano será uma gripe sazonal igual às gripes dos outros anos”, mas é necessário “vacinar o maior número possível de pessoas contra a gripe para evitar confundir sintomas de gripe com sintomas de covid”. “Mas em termos de protecção, o objectivo de proteger contra a gripe é o mesmo dos outros anos — proteger os grupos de risco”, destacou.

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