Concerto comemorativo dos 250 anos de Beethoven reabre São Carlos em Setembro

Teatro nacional apresentou a sua programação para os próximos dois meses, a primeira já com assinatura de Elisabete Matos. Do cartaz, que se interrompe no final de Outubro para obras no palco, consta apenas uma ópera (e em versão concerto, devido à impossibilidade de utilização do fosso de orquestra).

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A nova temporada já tem a assinatura de Elisabete Matos, que assumiu a direcção artística do São Carlos em Outubro Nuno Ferreira Santos

Uma celebração dos 250 anos do nascimento de Beethoven (1770-1827) marcará a reabertura, no dia 5 de Setembro, do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), em Lisboa. Será apresentado o Triplo Concerto estreado pelo próprio compositor em Viena, no ano de 1804, numa actuação em que a Orquestra Sinfónica do Porto (OSP), dirigida pela maestrina titular, Joana Carneiro, será acompanhada pelos solistas Pedro Meireles (violino), Marco Pereira (violoncelo) e António Rosado (piano).

A primeira programação assinada pela soprano Elisabete Matos, que assumiu a direcção artística do TNSC em Outubro do ano passado, aposta nos solistas portugueses por ser essa a opção “mais coerente do ponto de vista artístico, na medida em que se trata de músicos especialistas nas obras que vão interpretar e que contam com carreiras sólidas e reconhecidas pelo público e pelos seus pares”, justifica o comunicado do TNSC divulgado na quinta-feira.

No mesmo texto, explica-se que “o regresso à actividade do TNSC acontece mais cedo porque se pretende devolver ao público algum do tempo em que a actividade esteve suspensa e, também, porque está prevista a realização de uma intervenção delicada e muito importante no palco do Teatro (a substituição do pano de ferro) que tem início previsto para o final de Outubro e duração estimada de algumas semanas”. O documento não faz referência a quaisquer outras obras no edifício que abriu portas pela primeira vez em Junho de 1793.

Em Junho do ano passado, recorde-se, para apaziguar uma tempestade laboral na casa que custou o cancelamento da ópera La Bohème – em causa estava a disparidade das condições remuneratórias dos técnicos do São Carlos e da Companhia Nacional de Bailado, entidades cuja gestão conjunta é da responsabilidade do Organismo de Produção Artística (Opart) –, o Ministério da Cultura anunciou que o TNSC iria receber três milhões de euros para obras. A verba, disse então, destinar-se-ia “sobretudo a trabalhos de reabilitação e modernização do edifício do TNSC, intervenções aguardadas há pelo menos 20 anos” que permitirão “a modernização de diversos sistemas, nomeadamente eléctricos e de comunicações, bem como a melhoria das condições técnicas e de programação artística do teatro”. 

A própria directora artística do São Carlos subirá ao palco a 19 de Setembro, acompanhada pela OSP, para interpretar algumas das heroínas de várias óperas de Giacomo Puccini (1858-1924). O concerto, intitulado As Mulheres de Puccini, inclui árias das personagens femininas das suas óperas, entre outras, Mimì, Turandot, Cio-Cio San, Tosca e Manon Lescaut.

Muitas destas personagens foram já interpretadas por Elisabete Matos, que vai partilhar o palco com Dora Rodrigues e Carla Caramujo. A direcção musical É de Domenico Longo, que dirigiu em Fevereiro de 2015 no teatro lisboeta a ópera Macbeth, de Verdi, igualmente protagonizada pela actual directora artística.

Uma semana antes, a 12 de setembro, Pedro Neves dirige a OSP num concerto com os solistas Hugues Borsarello (violino) e Gérard Caussé (viola d"arco). O programa será preenchido pela Sinfonia Concertante (1779), de Mozart.

Como tem sido tradição, o TNSC apresenta parte da sua programação no Centro Cultural de Belém (CCB), onde, a 27 de setembro, a OSP apresenta o Duplo Concerto, de Brahms, com os solistas Pedro Meireles (violino) e Irene Lima (violoncelo), sob a direção musical de Antonio Pirolli, na qualidade de maestro convidado principal da OSP.

O italiano, de 55 anos, dirigiu a OSP no concerto de Páscoa, também no CCB, em Março de 2018, e em Outubro do ano passado, no São Carlos, a ópera La Forza del Destino, de Giuseppe Verdi, numa co-produção com a Ópera Nacional do País de Gales.

A 25 de Outubro, também no CCB, a OSP interpreta, sob a direção musical de Bruno Borralhinho, o Concerto n.º 2 para flauta de Mozart, sendo solista Anabela Malarranha. Outro palco habitual da programação do TNSC, o Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, receberá a 30 e 31 de Outubro Des Knaben Wunderhorn, de Mahler, com Ana Quintans e Julien Van Mellaerts como solistas, sob a direção musical de Joana Carneiro. 

Um mês antes, exactamente, realizar-se-á o primeiro concerto com o Coro do TNSC, no salão nobre deste teatro, onde voltará a actuar a 2 de Outubro. “Em ambas as ocasiões, o Coro apresenta-se em formação camerística”: em Setembro, “apenas os naipes femininos” e em Outubro apenas “os naipes masculinos”, ambos sob direcção do maestro João Paulo Santos.

A 23 de Outubro, o coro juntará 35 cantores para interpretar “um programa que deambula entre as monumentais obras corais sinfónicas, as óperas com grandes efectivos e as rendilhadas produções de câmara”, sendo acompanhado ao piano por Joana David e Nuno Margarido Lopes.

Elisabete Matos realça a forte presença do Coro do TNSC nesta programação bimestral, referindo que os três concertos corais são “momentos importantes, que constituem a consolidação do regresso aos palcos pós-confinamento, que se iniciou no Festival ao Largo e culminará na ópera de Outubro, onde se apresentará com uma formação de cerca de 50 elementos”.

O regresso dos coros aos palcos tem suscitado algumas reservas, dados os diversos casos de contágio que se verificaram na Primavera em vários países. De resto, ainda não há dados científicos que permitam excluir a possibilidade de a emissão vocal associada ao acto de cantar representar um risco acrescido de transmissão do novo coronavírus.

La Wally, de Alfredo Catalani (1854-1893), que se estreará a 23 de Outubro, é a única ópera programada pelo São Carlos para os próximos dois meses; apresentar-se-á, porém, apenas em versão concerto, “devido à impossibilidade de utilização do fosso” de orquestra, justifica o TNSC. Será dirigida por Antonio Pirolli. O elenco é liderado pela soprano russa Zarina Abaeva, e conta com os cantores líricos Luiz-Ottavio Faria, Luis Cansino, Azer Zada, Patrícia Quinta, Joana Seara e Nuno Dias.