Já são quatro as traineiras encostadas ao cais por causa do vírus, em Matosinhos
Mais de 80 pescadores estão neste momento impedidos de ir ao mar, após detecção de 11 casos nestas embarcações, o que obriga os restantes tripulantes a isolamento profiláctico.
Há uma quarta embarcação da pesca da sardinha paralisada por causa de um caso de covid-19 entre os membros da respectiva tripulação. O presidente da associação Propeixe, de Matosinhos, confirmou esta quinta-feira que a traineira Pedro Mariana está parada, depois de o contramestre ter testado positivo, à semelhança do que já tinha acontecido com outros três barcos da região, matriculados em Vila do Conde e Póvoa de Varzim mas a operar a partir de Leixões. Os elementos das respectivas famílias estão, também a fazer o teste.
Neste momento são assim mais de 80 os homens parados, embora se espere que, nos próximos dias, a primeira traineira com oito casos detectados, a José Dinis, possa regressar ao mar, à medida que os seus tripulantes testarem negativo ao novo coronavírus. A situação, que pode, no entanto, não se cingir a estas embarcações, está, naturalmente, a preocupar o sector, as autoridades locais e nacionais, que na quarta-feira, numa reunião em Matosinhos, discutiram já algumas formas de evitar a paralisação de mais embarcações.
Já na noite de quarta-feira, a Câmara de Vila do Conde, que esteve representada pela presidente e um vereador nessa reunião, fez saber, em comunicado, que está preparada para apoiar logisticamente, quer com instalações, quer com apoios de outro tipo, uma solução que passe por manter as traineiras no mar e as companhas, como chamam às tripulações, isoladas das respectivas famílias em terra, durante as semanas de quarentena profiláctica legalmente exigida. “Conciliar-se-á o respeito pelo enquadramento legal imposto pela Autoridade de Saúde com a possibilidade de corresponder aos anseios desta grande comunidade. Cabe agora ao Ministério da Saúde, pronunciar-se sobre as propostas apresentadas”, explicava a autarquia liderada por Elisa Ferraz.
Esta quinta-feira, em declarações à Lusa, a autarca revelou que o local sugerido para acolher, pontualmente, esses pescadores foi a Colónia de Férias de Árvore, localizada junto ao mar e com quartos individuais, sendo que a Câmara assumirá a manutenção e limpeza das instalações e, se necessário, as refeições. “É uma solução inovadora, mas que pode ser uma alternativa para que a actividade possa continuar e as regras das autoridades de saúde continuem a ser cumpridas. Houve uma abertura para que a proposta fosse analisada”, acrescentou Elisa Ferraz.
O problema, que surge numa altura em que as infecções no Norte atingem números que não se viam desde Maio, ultrapassa no entanto este município, tendo em conta que a pesca da sardinha na região, mesmo sendo os barcos e pescadores matriculados maioritariamente na Póvoa de Varzim e em Vila do Conde (que inclui a comunidade de Caxinas e Poça da Barca), congrega homens de Matosinhos, Vila Nova de Gaia (Afurada) e até de concelhos mais a sul, como a Murtosa. Os quatro barcos estão, neste momento, parados em Leixões, explicou ao PÚBLICO Agostinho Mata, da Propeixe. Esta quinta-feira, segundo Elisa Ferraz, autarcas de Vila do Conde e Póvoa vão esta tarde reunir-se com a ARS Norte para fazer um ponto de situação da covid nos dois concelhos.