Enfermeiros acusam lar de Reguengos de Monsaraz de “falhar compromisso”
“Estamos muito apreensivos porque parece já não haver interesse da fundação para contratar enfermeiros”, aponta Celso Silva, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) acusou esta quarta-feira a fundação que gere o lar de Reguengos de Monsaraz (Évora), onde um surto de covid-19 provocou 18 mortos, de “falhar o compromisso” para a contratação de profissionais.
“Estamos muito apreensivos porque parece já não haver interesse da fundação para contratar enfermeiros”, afirmou Celso Silva, da Direcção Regional do Alentejo do SEP, em declarações à agência Lusa, na sequência de um comunicado divulgado pelo sindicato.
O dirigente sindical indicou que a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS) comprometeu-se, numa reunião com o SEP realizada em 20 de Julho, a enviar para o sindicato “uma proposta com as condições de contratação para enfermeiros a tempo inteiro”.
A reunião foi pedida pelo SEP depois de terem sido divulgadas dificuldades na contratação de enfermeiros pelo presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz, José Calixto, que também preside ao conselho de administração da FMIVPS. Segundo Celso Silva, o conselho de administração da FMIVPS reconheceu então que “teria de ter enfermeiros a tempo inteiro no seu quadro de pessoal para poder responder às necessidades dos utentes do lar”.
“Tendo em conta as declarações públicas do presidente da fundação, que disse que o referencial para a contratação de enfermeiros a tempo inteiro seria o da tabela salarial do Serviço Nacional de Saúde (SNS), concordámos e ficámos a aguardar”, disse. “Mas nada chegou. Enviámos dois ofícios e estão sempre a adiar, dizendo que vão enviar, mas o que é certo é que não enviaram nada”, acrescentou o dirigente do SEP, aludindo à proposta com as condições para a contratação de enfermeiros.
Celso Silva questionou “se de facto a FMIVPS quer ou não quer contratar enfermeiros a tempo inteiro” e se as declarações de José Calixto, presidente da câmara e da fundação, sobre as dificuldades de contratação de profissionais e as condições do contrato “são para levar a sério ou não”. O sindicalista disse que há enfermeiras que têm como serviço principal o SNS que estão a assegurar “algumas horas” no lar da FMIVPS, considerando que essa condição “não invalida” a contratação de profissionais a tempo inteiro.
No total, este surto, que já foi considerado como resolvido pela Autoridade de Saúde, provocou 162 casos de infecção, a maior parte no lar (80 utentes e 26 profissionais), mas também 56 pessoas da comunidade, tendo morrido 18 doentes (16 utentes e uma funcionária do lar e um homem da comunidade).
Na semana passada, foram conhecidas as conclusões de uma auditoria feita pela Ordem dos Médicos (OM). No relatório, ao qual a agência Lusa teve acesso, a comissão da OM que realizou a auditoria disse que o lar da FMIVPS não cumpria as orientações da Direcção-Geral da Saúde e apontou responsabilidades à administração, à Autoridade de Saúde Pública e à Administração Regional de Saúde.
A Procuradoria-Geral da República adiantou à Lusa, na sexta-feira, que foi instaurado um inquérito sobre o surto de covid-19 neste lar e que está a analisar o relatório da OM.