Malala assinala o final do curso em Oxford: “Não foi o fim que eu imaginava”

A activista pelo direito à educação lamenta o “sentimento de perda” numa carta que aborda o final da licenciatura em período de pandemia.

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A jovem conquistou o Nobel da Paz em 2014 Reuters/OLIVIA HARRIS

Na mala que preparou para as férias da Páscoa, em Março, Malala Yousafzai​ levou apenas “livros, sapatos e roupas” suficientes para três semanas. “Meses depois, ainda estou em casa dos meus pais”, começa por sublinhar a jovem paquistanesa de 23 anos na carta na qual analisa o final da sua licenciatura na Universidade de Oxford.

“Este não foi o fim que eu imaginava”, admite, um sentimento comum entre os finalistas de 2020. O restante ano lectivo fez-se com aulas por videochamada e “exames finais feitos no quarto”. A estudante de Filosofia, Política e Economia​ lamenta o “sentimento de perda”, já que “a educação é muito mais do que um programa curricular”, justifica a sobrevivente de um ataque dos taliban paquistaneses por defender o acesso das raparigas à educação.

Na carta, publicada na Vanity Vair, a vencedora do Nobel da Paz em 2014 reconta os primeiros dias em Oxford, quando uma estudante mais velha lhe disse que “a vida na universidade é dormir, estudar e socializar, sendo que só se pode escolher duas dessas opções”. Mas até escolher duas foi difícil para a agora finalista, sendo que os sacrificados foram “o estudo e o sono”.

Entre as histórias que marcaram a passagem pelo Reino Unido, Malala Yousafzai destaca as noites passadas a ver séries como “Rick and Morty” e “Teoria do Big Bang”, ou as madrugadas a ver o nascer do sol. Já os trabalhos foram deixados “para o último minuto”, mas sempre entregues. Honesta, a jovem admite que ainda não domina as lides domésticas como “lavar a roupa”.

Embora tenha assistido a aulas e palestras com “alguns dos melhores líderes e pensadores do mundo”, Malala destaca o papel dos colegas, jovens, com quem aprendeu “muito mais”. “Assim como eu, [os colegas] saem para um mundo tumultuoso: uma pandemia, uma recessão económica, racismo, desigualdades e um futuro incerto”, salienta. Ainda assim, considera que desde há muito os jovens “sabem que há muito trabalho que recai sobre os seus ombros”, já que as figuras do poder “falharam na protecção dos refugiados e minorias religiosas, nos ataques às escolas, na justiça para negros ou em sequer admitir que as alterações climáticas existem”, acusa.

Por isso, os jovens de hoje “cresceram sabendo que o mundo que vão herdar será disfuncional”, aponta a activista, e acrescenta que esse sentido de responsabilidade faz com que sejam uma geração “mais preparada para lidar com a actual crise”.

Na carta constam referências a jovens que “espoletaram movimentos” e lutaram para “mostrar ao mundo as suas perspectivas”. Entre eles surge a “amiga Greta Thunberg”, a “única amiga por quem faltaria às aulas”, acrescenta Malala, fazendo referência a quando as duas activistas se encontraram, em Fevereiro.

“Eu não tive oportunidade de me despedir dos meus amigos em Oxford”, lamenta a estudante. Mas diz saber que vai voltar a ver a “turma de 2020” a “lutar pela democracia”, a “proteger o planeta”, a “combater o racismo e as desigualdades”, assim como promete trabalhar em prol da educação, igualdade e direitos das mulheres “todos os dias, até ao fim” da sua vida.

Contudo, o conselho com que termina a carta, que marca o final da licenciatura, é direccionado para os mais velhos: “Não é demasiado tarde para mudar.”

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