Um vídeo pôs-nos a falar de desperdício alimentar. Mas o problema não é novo — e há quem o combata
O vídeo publicado por Hugo Breda e João Relógio, em que mostravam quilos de alimentos em bom estado resgatados dos contentores do lixo de hipermercados, abriu a discussão sobre o desperdício alimentar. Mas o assunto não é novo e há activistas e associações que o andam a combater. Recordamos alguns.
O vídeo foi publicado na segunda-feira no Instagram e rapidamente atingiu mais de um milhão de visualizações. Hugo Breda e João Relógio, da produtora Swag On, aventuraram-se a mergulhar nos contentores de lixo de hipermercados e encontraram aquilo que, para muitos, não foi uma surpresa: quilos de produtos embalados, em bom estado e dentro do prazo de validade. Mostraram-nos expostos em cima de uma mesa — e se não tivessem explicado como os tinham obtido, poderia parecer um dia de compras como outro qualquer.
Cogumelos, legumes, fruta e três grandes sacos de pão. O suficiente para refeições de um dia inteiro, palavra do artista. No dia seguinte, e apesar da esperança de Breda em não encontrar o mesmo cenário, conseguiu, mais uma vez, cobrir a mesa com produtos ainda próprios para consumo. E o DJ publicou outro vídeo para o voltar a mostrar.
Em tempos de pandemia e com milhares de pessoas em situação de necessidade, o sucedido ganha outra dimensão. As reacções de choque e revolta não tardaram a aparecer, inundando caixas de comentários e exigindo mudanças. As empresas em questão — Auchan e Pingo Doce, como se pôde desvendar pelos rótulos das embalagens — não tardaram a assegurar o compromisso com a redução de desperdício de bens alimentares.
“Após termos tido conhecimento do vídeo em questão, e termos confirmado estarmos perante produtos Pingo Doce, estamos a averiguar internamente o que poderá ter originado esta situação, que constitui um incumprimento das regras estabelecidas na companhia”, escreve o Pingo Doce, em comunicado enviado ao P3. “O combate ao desperdício alimentar é, para o Pingo Doce, uma missão e um compromisso sério”, continua a empresa, enumerando as estratégias utilizadas para evitar o desperdício de mais de “10.700 toneladas de alimentos”, só em 2019.
A empresa assegura que procede à doação de alimentos a mais de 500 instituições; utiliza os “legumes feios”, “que costumavam ser deixados nos campos de cultivo pelos produtores pela dificuldade de escoamento”, nas sopas e saladas; e promove campanhas de descontos em produtos com o prazo de validade perto do fim. “Lamentamos sentidamente esta situação, que é totalmente excepcional e que contraria a política da companhia de respeitar os alimentos”, conclui.
Também a Auchan afirma que o desperdício alimentar é “uma das grandes preocupações da distribuição”, que, escreve em comunicado enviado ao P3, “muito tem feito para se tornar cada vez mais eficiente”. A distribuidora francesa menciona o projecto Desperdício Zero, em que são desenvolvidas “estratégias que permitem diminuir o número de alimentos desperdiçados”. A área de compra a granel e a de descontos para produtos que não respondam aos critérios estéticos desejados ou que estão perto da data de validade são algumas das iniciativas mencionadas.
A Auchan refere ainda parcerias com a aplicação de desperdício alimentar Too Good To Go, que, desde 2019, permitiu que fossem salvas cerca de oito mil refeições. Mais ainda, afirma ser parceira de diferentes associações às quais fornece alimentos com fim de validade próximos. “Lamentamos sentidamente esta situação, que é totalmente excepcional e que contraria a política da companhia de respeitar os alimentos”, escrevem.
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