Portugal regista o primeiro dia sem mortes desde 15 de Março. Há mais 106 infectados
Primeira morte fora anunciada a 16 de Março pela ministra da Saúde. Secretário de Estado até se emocionou quando falou em zero óbitos. Região de Lisboa representa 62% dos novos infectados.
Portugal registou esta segunda-feira zero mortes por covid-19. A última vez que houve zero mortes diárias foi a 15 de Março, tendo a ministra da Saúde anunciado no dia seguinte a primeira morte por covid-19, um homem de 80 anos. O boletim diário da Direcção-Geral da Saúde dá conta de que o número de óbitos se mantém igual ao de domingo: 1738.
Na habitual conferência, nesta segunda-feira, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, emocionou-se quando se referiu aos zero óbitos. Com dificuldade em disfarçar a voz embargada, o governante admitiu “satisfação” depois de “muitos meses a anunciar óbitos”. “Tem sido muito difícil nestes últimos tempos e queria dizer que estamos muito felizes que isto tenha acontecido. Olhamos para estes números com humildade, com cautela, porque sabemos que, de um momento para o outro, esta situação se pode inverter”, ressalvou.
Já o número de infectados continuou a subir esta segunda-feira: registam-se 51.569 casos, mais 106 do que no domingo, um aumento de 0,2%.
O número de pessoas internadas também subiu. Há esta segunda-feira 390 pessoas internadas, mais 12 do que no sábado, 42 delas em unidades de cuidados intensivos. Os casos em internamento representam 0,8% do total de infectados confirmados — 10,7% estão em unidades de cuidados intensivos.
Já na análise por região, o retrato mantém-se com a região de Lisboa e Vale do Tejo a continuar a ser a mais afectada pela pandemia: regista neste momento 26.389 infectados (mais 66) e 606 mortos (número igual ao de domingo). Só a região de Lisboa tem 62% das novas infecções. A segunda região mais afectada é o Norte, com 18.797 casos confirmados (mais 17 do que no domingo) e 828 vítimas mortais.
Entre as regiões menos afectadas também se mantêm as mesmas: os Açores, o Alentejo e a Madeira. No Alentejo há 745 casos e 22 mortos. Nos Açores, contam-se 168 casos de infecção e 15 mortos. Na Madeira há 113 casos de infecção, sem registo de mortes. Já o Algarve tem 892 casos de infecção e 15 mortos.
Lisboa é o concelho mais afectado
Aprofundado a análise na perspectiva da informação disponível no boletim por concelhos, dados que a DGS actualiza agora todas as segundas-feiras, verifica-se que o de Lisboa é o mais afectado, com 4562 casos confirmados de infecção (mais 154 que na segunda-feira anterior). Segue-se Sintra, com 3830 casos (mais 135), e Loures, com 2358 (mais 66).
A taxa de letalidade da doença é superior entre os mais velhos. Dos 1738 mortos, 1155 tinham 80 anos de idade ou mais e 332 tinham mais entre 70 a 79 anos.
“Não é verdade que queremos testar menos, pelo contrário”
A notícia do Expresso, segundo a qual a “DGS dá ordem para deixar de testar os contactos de alto risco”, ocupou parte das respostas dos governantes na conferência de imprensa desta segunda-feira.
“Claro que não é verdade que queremos testar menos, pelo contrário”, disse o secretário de Estado da Saúde. E acrescentou: “Se queremos duplicar a nossa capacidade de testagem e a expansão da nossa rede laboratorial, se queremos passar dos 12 mil, 13 mil testes diários, para os 24 mil, 25 mil testes diários é porque queremos testar mais.” No entanto, ressalvou que se pretende testar “com critério e método”.
Admitiu que o rastreio dos contactos “não estava formalizado em nenhuma norma anterior” e que a norma da Direcção-Geral da Saúde, de 24 de Julho – que disse estar em linha com a Organização Mundial de Saúde e outras entidades, sendo reajustável em função da pandemia – serviu para “clarificar” procedimentos que já existiam “no terreno”. São eles, sublinhou, deixar às autoridades clínicas a avaliação do risco e a decisão de testagem. Mas reafirmou não ser “verdade” que “deixava de ser obrigatório a realização de testes de diagnóstico em contexto de alto risco”.
“Na semana que findou ontem [domingo], Portugal fez em média mais de 13.300 testes por dia. Não há qualquer orientação para testar menos, até porque a realização de testes a contactos de casos confirmados de covid-19 sempre dependeu e continua a depender da estratificação do risco efectuada pelas autoridades de saúde", afirmou, frisando que a diminuição as infecções registadas nos últimos dias nada tem que ver com a redução da testagem. O governante também fez questão de sublinhar que a prescrição de testes não é efectuada por profissionais de saúde do SNS 24, mas sim por médicos.
Segundo Lacerda Sales, “Portugal até está a ir bem mais longe do que aquilo que alguns organismos internacionais” estão a indicar, recomendações que são “no sentido de, eventualmente, se fazerem testes a contactos de alto risco sintomáticos, excluindo os assintomáticos”. E insistiu que a avaliação do “alto risco” é feita pela autoridade de saúde, tendo em conta, por exemplo, existência de surtos ou de contactos mais prolongados.
Também o novo subdirector-geral da Saúde, Rui Portugal, deixou claro que não se deve pensar que é uma “boa prática” que alguém que viva com alguém que tenha tido um teste positivo ao novo coronavírus “tenha de ir a correr” fazer um teste. “O que é preciso é essa pessoa estar confinada”, assegurou.
Aumento dos casos em vigilância
Quanto a profissionais de saúde infectados, e reportando a 30 de Julho, o total acumulado é de 4195, segundo dados avançados na conferência de imprensa. O Rt nacional é de 0,93 – o Rt é o número médio de casos secundários resultantes de um caso infectado. Em Lisboa e Vale do Tejo é de 0,88; no Norte, 1,07; no Centro, 0,92; no Alentejo 1,13; e no Algarve, 1,02, disse o secretário de Estado.
Há 15.500 pessoas em vigilância clínica no país. Quanto aos casos activos, num total de 9674, no Norte são 1985; no Centro, 753; em Lisboa e Vale do Tejo, 6294; no Alentejo, 287; e no Algarve 355.
Sobre a diminuição de casos activos e o aumento dos casos em vigilância, o governante explicou que tal deve-se aos casos de recuperados, que têm “aumentado substancialmente e proporcionalmente”. Mas também, continuou, com o trabalho de vigilância das equipas de saúde pública, entre outras entidades. Rui Portugal referiu ainda que o desconfinamento e as férias, por exemplo, aumentam a probabilidade de contactos, sendo hoje “substancialmente maior do que há um mês” e “muitíssimo maior do que há dois meses”. É, por isso, considerou, “um bom sinal” de identificação por parte da saúde pública e que revela se está a “apertar a malha” para cortar “mais precocemente” as cadeias de transmissão.
Pessoas vulneráveis no trabalho
Há um aspecto que preocupa Rui Portugal: as pessoas que fazem parte da chamada economia informal e não têm o devido enquadramento laboral quando têm de fazer o isolamento. Nessa altura, precisam de ajuda para se alimentarem e sustentarem, algo que tem sido assegurado pelas autarquias, frisou.
Questionado sobre o enquadramento laboral de quem tem de ficar em casa por ter tido um contacto próximo com alguém infectado, o responsável esclareceu que “tendo as pessoas uma situação regularizada, em termos de emprego, é emitido um certificado de isolamento profiláctico pela autoridade de saúde que lhe garante, em relação à Segurança Social, uma cobertura em termos daquilo que é a sua permanência em casa”.
Isto é, prosseguiu, “um instrumento absolutamente crucial relativamente ao combate a esta pandemia": “É possível, de facto, reter as pessoas e ter o isolamento profiláctico, porque há uma solidariedade dos portugueses através da Segurança Social, e por determinação do Governo, em que lhes é assegurado um rendimento para se protegerem a elas e à sociedade em geral”.
E acrescentou: “Este é provavelmente o instrumento mais forte que temos na sociedade portuguesa em relação ao combate da pandemia.” Mas admitiu que é preciso “aliviar” o processo “administrativo e burocrático”, automatizando alguns dos procedimentos. E afirmou que o que se tenta fazer é ampliar a protecção no isolamento a todos os que residem no território, tanto a quem está na economia formal, como na informal.
Plano para o Inverno no fim do mês
Sobre o plano para o Outono/Inverno, o secretário de Estado disse que está a ser preparado e que, “lá mais para o final do mês” deverá ser apresentado. Terá em conta, entre muitos outros aspectos elencados, um “alinhamento com as políticas europeias”, o “reforço da estrutura da saúde pública”, das “respostas aos mais vulneráveis”, de profissionais de saúde, dos cuidados primários de saúde e dos diferenciados, da rede laboratorial, da vigilância, da vacinação e de medicamentos.