Trump chama “delinquente” à Alemanha para justificar retirada de 12 mil soldados do país
O Presidente acusa o país de usufruir de protecção militar que não paga e de não investir mais em Defesa.
Os Estados Unidos revelaram esta quarta-feira os planos para a retirada de 12 mil soldados americanos do total de 36 mil destacados na Alemanha e o Presidente, Donald Trump, justificou a decisão voltando a chamar “delinquente” ao aliado, por não investir o suficiente em Defesa.
“[Os soldados] estão lá para proteger a Europa. Estão lá para proteger a Alemanha, certo? E é suposto a Alemanha pagar. A Alemanha não o está a pagar. Não queremos mais ser totós”, disse Trump aos jornalistas na Casa Branca. “Estamos a reduzir a força por eles não estarem a pagar as suas contas, é muito simples, eles são delinquentes”, continuou, repetindo um insulto feito no final de Junho.
Dos 12 mil soldados, 6400 vão regressar aos Estados Unidos, enquanto os restantes 5600 vão ser destacados para outros países europeus. Dois mil vão ser enviados para a Bélgica, para trabalho de quartel-general, por o Comando Europeu dos EUA e das Forças Especiais ter passado da Alemanha para a Bélgica, e algumas unidades vão para a região do Mar Negro, onde participarão em missões rotativas. Outros 2500 soldados, que estavam prestes a partir do Reino Unido para a Alemanha, vão permanecer em território britânico e uma esquadrilha de caças vai passar a ter base em Itália.
É o mais recente episódio de uma longa fricção entre Washington e Berlim desde que Trump chegou à Casa Branca, em 2017, e prometeu que os seus aliados da NATO não iam continuar a usufruir da protecção militar dos Estados Unidos sem a pagarem. A decisão já tinha sido anunciada há um mês e não foi bem acolhida pela Alemanha, que a considerou na altura “lamentável”.
Os Estados da NATO acordaram, em 2014, investir 2% do PIB no sector da Defesa e que a evolução do investimento seria progressiva, até a meta ser alcançada em 2024. Trump tem criticado essa evolução e chegou a exigir que se passasse para 4% do PIB, algo financeira e politicamente incomportável para os seus aliados, e ameçado com a saída dos EUA da aliança.
No entanto, o secretário de Defesa americano, Mark Esper, optou por uma outra abordagem para justificar a retirada: a de beneficiar os interesses de Washington no estrangeiro, fortalecer a NATO e contribuir para dissuadir a Rússia, uma das grandes preocupações da NATO, principalmente desde a anexação da Crimeia, em 2014.
“Isto vai alcançar o que o Presidente disse sobre a diminuição do número [de soldados] na Europa, e alcança os seus outros objectivos”, disse Esper, salientando que este plano vai impedir o enfraquecimento a NATO.
Visão diferente tem o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, ao dizer que o anúncio “enfraquece o compromisso continuado dos EUA para com a NATO e a segurança europeia”. “A paz e a segurança da Europa são importantes para a segurança e prosperidade da América do Norte, por enfrentarmos um mundo mais imprevisível”, lê-se no comunicado onde salienta que os aliados foram consultados por Washington.