Marta Vicente, recentemente licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, passara grande parte da quarentena a aprender a bordar, um hábito que era já das suas avós. Perante o tédio do confinamento, socorrera-se da Internet e apaixonara-se pela arte do bordado, num período em que se sentia insegura quanto ao futuro.
Estávamos já em tempos de desconfinamento quando Marta se reuniu com três amigas de infância, naturais de Castelo Branco, mas que, tal como a própria Marta, se tinham mudado para Lisboa para estudar: Beatriz Isidro (mais conhecida por “Becas”), a licenciar-se em Engenharia Mecânica, Maria Leitão, a licenciar-se em Medicina Veterinária, e a mais nova do grupo, Rita Dias, que estuda Filosofia. No jantar, ainda em Castelo Branco, nasceria a ideia e o conceito: t-shirts com bordados de frases políticas. Surgia, assim, a Aqui Há Tee.
“Temos consciência política, fazia sentido”, esclarece Marta ao P3. Muitas frases foram disparadas naquele jantar mas, por agora, são três as que figuram nas t-shirts: “Era do Negacionismo” — “numa época em que é gratuita a negação da crua realidade”, diz Marta —; “Foi de Trivela” — a polémica resposta de António Costa à defesa, por parte de André Ventura, de um plano de isolamento para a comunidade cigana —; e “Made in 2020” — “num ano em que o champanhe que abrimos no primeiro minuto não previu todos os outros que se seguiram”, partilha a jovem de 21 anos, referindo-se ainda ao movimento Black Lives Matter. As quatro amigas compraram t-shirts de várias cores, associaram uma cor a cada frase e já estão a vender as criações através do Instagram e do Facebook, por 12,50 euros.
As tarefas estão bem distribuídas entre as quatro. “Eu bordo”, explica Marta. “A Becas fez o logótipo e os cartões, tratou da parte gráfica” e a escolha das frases partiu essencialmente de Maria e de Rita. Entretanto também já começaram a fazer t-shirts com bordados personalizados, a pedido dos clientes, mas o objectivo é “lançar mais frases”, afirma Marta. E frases que se liguem à “luta pelos direitos humanos”, conta.
Agora em férias, as quatro amigas estão “bastante entusiasmadas”, como revela a recém-licenciada, e muito atentas quanto às preferências dos clientes para poderem avançar com o projecto. No início do próximo ano lectivo, as amigas regressam a Lisboa, mas querem continuar a apostar na iniciativa.
Texto editado por Ana Maria Henriques