Governo vai compensar CP por perdas estimadas de 150 milhões
Presidente da CP, Nuno Freitas, em entrevista ao PÚBLICO, avançou esta semana a estimativa, “a rever em alta” das perdas da operadora com a covid-19. Ministro garantiu hoje que “tem de fazer justiça à CP” e pagar à empresa pelo serviço que lhe é imposto.
O Estado vai ter de compensar a CP pelas perdas sofridas devido à covid-19, valores que a empresa estima na ordem dos 150 milhões de euros, anunciou esta quarta-feira o ministro das Infraestruturas e da Habitação, no Entroncamento.
Em entrevista publicada esta terça-feira pelo PÚBLICO, Nuno Freitas afirma: “a CP perdeu 150 milhões de euros por causa da covid, número que está a ser revisto em alta à medida que nos damos conta do impacto da recessão económica”.
“A CP continuou sempre a prestar serviço, mesmo com quebras de procura brutais”, afirmou ainda o presidente da operadora ferroviária na entrevista, quantificando: a “quebra média da procura ainda está na casa dos 50%, sendo que nos Alfas é de 80% e nos Intercidades de 75%”, serviços “que proporcionam mais de 40% das receitas da CP”.
Explicou ainda Nuno Freitas ao PÚBLICO que “era preciso transportar as pessoas que iam trabalhar: enfermeiros, médicos, polícias, bombeiros, empregados de limpeza e da logística...”, mas que esperava também que a CP fosse compensada pelo que qualificou de “perdas de receitas bíblicas” por causa das restrições impostas pela pandemia.
Pedro Nuno Santos, que visitou hoje as oficinas da CP no Entroncamento, onde estão a ser recuperadas unidades, nomeadamente para a Linha de Sintra, afirmou que o Estado “tem de fazer justiça à CP” e pagar à empresa pelo serviço que lhe é imposto.
“A CP sofre com a covid e com um subfinanciamento crónico. Nós normalmente vamos ouvindo que a CP é um buraco, custa muito dinheiro ao país. A verdade é que a CP tem trabalhado ao longo dos anos sem receber do Estado aquilo que é seu por direito”, disse.
Falando esta quarta-feira ao lado do presidente da CP, Nuno Freitas, antes de uma viagem numa Unidade Quádrupla Eléctrica, cuja reabilitação foi concluída no Entroncamento e que vai reforçar a frota de comboios ao serviço na Linha Urbana de Sintra, o ministro salientou o facto de, “pela primeira vez na história” da empresa, existir um contrato de serviço público, que estabelece as obrigações de ambas as partes.
“O Estado não fará nenhum favor à CP. A partir de agora vai pagar à CP pelo serviço que faz. Daqui para a frente vamos ter um contrato de serviço público que vai dar um valor justo à CP”, salientou.
Contudo, Pedro Nuno Santos reconheceu que “há muito trabalho para trás que fica por fazer, nomeadamente a primeira metade do ano de 2020”, particularmente afectada pelas medidas impostas pela pandemia da covid-19 e cuja compensação o Governo irá resolver internamente.
“Não nos esqueçamos que a CP chegou a fazer uma redução de oferta de 25% quando a redução da procura tinha sido de 95%”, disse, sublinhando que, desde o primeiro dia do desconfinamento, a empresa repôs 100% da oferta “e não está a ser compensada por isso”, estando a ter um prejuízo que deve ser compensado.
Pedro Nuno Santos acrescentou ainda a “mochila da dívida que a CP carrega”, a qual, afirmou, não se deve a má gestão no passado, mas ao facto de o Estado não estar a pagar “o que era devido”, sublinhando a necessidade de se fazer o saneamento financeiro da empresa.
“Do ponto de vista de contas com a CP, o Estado ainda tem muito que ajustar”, declarou, salientando que a empresa “tem as suas contas feitas”, sendo agora necessário “sentar com a CP e o Ministério das Finanças”.
O presidente da CP, Nuno Freitas, reafirmou esta quarta-feira que a empresa está a actualizar o valor do prejuízo “em função da evolução da recessão que o país está a ter, porque depois isso tem interferência no negócio”. Nuno Freitas adiantou que “os últimos cálculos apontam para os 150 milhões de euros, numa perspectiva de uma retoma” que não se sabe ainda se vai acontecer.
Unidade recuperada no Entroncamento vai reforçar Linha de Sintra
“Vamos para Sintra, vamos levar uma unidade recuperada”, disse Pedro Nuno Santos à partida do Entroncamento para uma viagem até Lisboa, na qual seguiu igualmente uma unidade para a Linha de Cascais que esteve a fazer a revisão geral no Entroncamento (Santarém).
Reconhecendo que Portugal precisa comprar “material novo”, o ministro salientou que o país não pode esperar por equipamento que só ficará disponível dentro de quatro ou cinco anos, quando tinha “encostadas” há mais de uma década “dezenas de unidades, entre automotoras, locomotivas, carruagens”.
Para Pedro Nuno Santos, não há “nenhuma justificação, num país que não é propriamente rico, que se possa dar ao luxo de ter material de qualidade encostado”.
“Não estamos a falar de sucata, estamos a falar de material que, infelizmente, o país, por desinvestimento, tinha encostado, mas que nos vai permitir aumentar a reserva que temos na linha de Sintra”, disse, salientando que o objectivo não é reforçar a capacidade, mas “garantir que os comboios aparecem à hora, são regulares e vão limpos”, reduzindo “quase a zero as supressões”.
Segundo o governante, foi iniciada, há menos de um ano, com a nova administração da CP, a identificação e verificação desse material, estando neste momento a ser recuperadas seis unidades com carruagens de um piso e duas de dois pisos que vão ser postas ao serviço na Linha de Sintra.
Para Pedro Nuno Santos, os “problemas estruturais, a longo prazo, terão de ser resolvidos com investimento na infra-estrutura e na compra de comboios novos”, acrescentando esperar conseguir lançar em breve concursos para comboios novos.
“Não somos um país rico que se possa dar ao luxo de encostar material. Infelizmente foi isso que fizemos. O que estamos a fazer é, com poucos recursos, pôr os activos que temos a funcionar e estamos a falar de comboios que custam mais de 10 milhões de euros e estamos a fazer uma recuperação por 500.000 euros e a pô-la ao serviço da nossa população”, frisou.
Pedro Nuno Santos criticou os governos, incluindo socialistas (do seu partido), por, durante décadas, terem desinvestido na ferrovia, deixando de “contratar pessoal, de investir na reparação, nas oficinas”.
Questionado sobre as queixas dos utentes, em particular pelas regras ditadas pela covid-19, que obrigam a cumprir o distanciamento entre as pessoas, o ministro disse compreender o “desconforto”, salientando, contudo, que os comboios não estão na sua lotação máxima.
Pedro Nuno Santos reconheceu ser “difícil” assegurar o distanciamento nos comboios, dando como exemplo o facto de, na linha de Sintra, um terço da lotação de um comboio corresponder a todos os lugares sentados.
“Temos de olhar para as especificidades do comboio. Não é dizer que não há risco, é claro que há”, como em qualquer espaço fechado, disse, salientando, contudo, que, dos cerca 2000 trabalhadores da CP que trabalham diariamente dentro do comboio, houve uma dezena de infectados e só quatro deles com probabilidade de o terem sido ao serviço.
O presidente da CP, Nuno Freitas, afirmou que a utilização das unidades que estão a ser recuperadas no Entroncamento vai permitir acabar com supressões de comboios à partida, o que representa, na prática, um reforço da oferta.
Nuno Freitas salientou que a CP vai, a “curtíssimo prazo”, ser certificada com o selo ‘clean & safe’, num reconhecimento do plano de contingência que prevê a limpeza regular dos comboios.