As vidas negras importam na 14.ª edição do MOTELX
O festival de terror de Lisboa, que decorre no Cinema São Jorge entre 7 e 14 de Setembro, apresentou na noite de terça-feira a programação para a sua 14ª edição.
A propósito dos protestos espoletados pela morte de George Floyd, a 14.ª edição do MOTELX terá uma retrospectiva chamada Pesadelo Americano: O Racismo e o Cinema de Terror. O programa terá filmes feitos entre 1962 e 2017 que exploram através do terror o racismo na América, seja ou não por autores negros. Essa, bem como dois dias extra de programação, é uma das grandes novidades dadas pela apresentação da edição deste ano do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, que decorreu esta terça-feira à noite no Cinema São Jorge, o mesmo local onde tem lugar o festival . Neste ano atípico, com as limitações de lotação recomendada pela DGS, o festival dura de 7 a 14 de Setembro, com um warm-up que ocorre na semana anterior.
No ciclo Pesadelo Americano mostra-se, entre clássicos consagrados e filmes menos óbvios, The Intruder, de Roger Corman, com William Shatner no papel de um racista que incita ódio contra negros, Ganja & Hess, do muitas vezes negligenciado Bill Gunn, um singular filme de vampiros que foi alvo de um remake de Spike Lee, O Cão Branco, de Samuel Fuller, que não teve um lançamento pleno nos Estados Unidos, Os Prisioneiros da Cave, de Wes Craven, O Assassino em Série, de Bernard Rose, Tales From the Hood, de Rusty Cundieff e Foge, de Jordan Peele.
Entre as primeiras longas-metragens anunciadas para estreia em Portugal contam-se o americano Butt Boy, de Tyler Cornack, o italiano Darkness, de Emanuela Rossi, o japonês First Love, que se estima ser o 104º filme de Takashi Miike, La Llorona, uma produção guatemalteco-francesa realizada por Jayro Bustamante, o argentino-mexicano The Intruder, de Natalia Meta, o australiano-americano Relic, de Natalie Erika James, o britânico Saint Maud, de Rose Glass, bem como Sanzaru, de Dia Magnus ou The Trouble with Being Born, de Sandra Wollner. Como dá para ver por estes nomes, esta edição gaba-se de ter o maior número de filmes de realizadoras no festival até à data.
O realizador português Pedro Costa será o convidado da secção Quarto Perdido, sob o nome Pedro Costa - Filmar as Trevas, falando no festival sobre a ligação que tem com o universo do terror, com a exibição do documentário Ne Change Rien, sobre Jeanne Balibar, e Cavalo Dinheiro, longa de ficção de 2014.
Em termos de documentários, o único desvendado até agora é Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street, de Roman Chimienti e Tyler Jensen, sobre Mark Patton, o actor que protagonizou o segundo Pesadelo em Elm Street, visto como um marco na representação LGBTQIA no terror, e é considerado o primeiro “scream queen” masculino. Haverá espaço para 20 curtas experimentais, entre Valerio’s Day Out, de Michael Arcos, Tomorrow I Will Be Dirt, de Robert Morgan ou 2050, de Aleksandra Lupashko. Continua a haver um prémio para a melhor curta portuguesa, com um valor pecuniário de 5000 euros, e um prazo alargado: só fecha dia 2 de Agosto.
Quanto ao warm-up, arranca no Convento de São Pedro de Alcântara a 3 de Setembro, com A Mulher-Sem-Cabeça, um espectáculo ao vivo com ilustrações de António Jorge Gonçalves e rimas do rapper Papillon a partir de uma obra de Gonçalo M. Tavares. Passado um dia, no Espaço Brotéria, um jantar encenado supervisionado por Albano Jerónimo em que duas estudantes de teatro e cinema, Matilde Carvalho e Rita Poças, encenam uma adaptação de Um Jantar muito Original, de Alexander Search, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Haverá também uma sessão de cinema ao ar livre na noite de 5, mas o filme ainda está por anunciar.