Morreu o realizador Luís Filipe Costa, voz da revolução radiofónica e pai de Pedro Costa
Começou a carreira profissional à frente dos microfones do Rádio Clube Português (depois do desvio na Faculdade de Economia) e realizou filmes para a RTP. Notícia foi confirmada ao PÚBLICO pela família.
O jornalista, radialista, escritor, argumentista e realizador Luís Filipe Costa, uma das vozes mais marcantes do panorama radiofónico português da segunda metade do século XX e antigo director do serviço de noticiários do Rádio Clube Português (RCP), onde foi pioneiro de uma forma breve, concisa e directa de dar informação, bem como pai do cineasta Pedro Costa, morreu na madrugada desta segunda para terça-feira aos 84 anos, confirmou ao PÚBLICO a família.
Nascido a 18 de Março de 1936, no Martim Moniz, em Lisboa, trocou, em jovem, o curso de economia por um percurso profissional na rádio que se iniciou como rádio-actor na Emissora Nacional. Luís Filipe Costa participaria activamente no 25 de Abril, lendo os comunicados do Movimento das Forças Armadas durante a emissão do RCP, onde primeiro foi locutor e depois se tornou director do serviço de noticiários.
Mais tarde, passou da rádio para a RTP, onde foi realizador, argumentista, jornalista e apresentador, tendo no currículo telefilmes ou peças de teatro como Happy End, A Borboleta na Gaiola, a partir de um romance seu, Era Uma Vez Um Alferes, uma adaptação de Mistérios de Lisboa, de Camilo Castelo Branco, Muito Tarde Para Ficar Só, séries de ficção como Uma Cidade Como a Nossa, Arco Íris, Arroz Doce, Terra Instável, Polícias, Estúdio Um ou Esquadra de Polícia ou documentários como Raúl Solnado - O Estado da Graça. Um dos seus programas mais marcantes foi Há Só Uma Terra, uma série documental por ele realizada e apresentada com preocupações ambientalistas. Foi transmitida entre 1972 e 1976 e está disponível online nos Arquivos RTP. No cinema, escreveu os diálogos de Camarate, de Luís Filipe Rocha.
Um dos seus telefilmes, Morte d’Homem, produção com João Mota, Hermenegildo Gomes, Mário Jacques, Francisco Moita Flores e António Capelo no elenco principal, valer-lhe-ia, em 1988, o Grande Prémio do Festival de Cinema para Televisão de Chianchino (Itália) e o 2.º Prémio do Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz.
No teatro, que foi o primeiro meio em que se iniciou nas lides artísticas, ainda adolescente, encenou África, com autoria e interpretação de Isabel Medina, a sua mulher. Antes da rádio, fez parte do Grupo Surrealista de Lisboa e do movimento político MUD Juvenil. Na literatura, assinou o já mencionado romance A Borboleta na Gaiola, em 1984, e Agora e Na Hora da Sua Morte. A Casa da Imprensa atribuiu-lhe a distinção de melhor radialista em 1966 e 1974, e, em 2011, Luís Filipe Costa recebeu o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).