Protestos contra Lukashenko aumentam após afastamento de candidatos da oposição
União Europeia denuncia “exclusão aparentemente arbitrária de candidatos” para as eleições presidenciais de 9 de Agosto.
Pelo menos 250 pessoas foram detidas na Bielorrússia por protestarem contra o afastamento de dois candidatos da oposição dos boletins de voto das eleições presidenciais de Agosto.
As manifestações no país acentuaram-se depois de a comissão eleitoral do país ter rejeitado as candidaturas de Victor Babariko e Valeri Tsepkalo, dois candidatos que eram vistos como capazes de derrotar o Presidente Alexander Lukashenko, que governa o país há 26 anos.
Viktor Babariko, ex-banqueiro e considerado o principal adversário de Lukashenko, foi detido em Junho, acusado de lavagem de dinheiro. Reuniu mais de 400 mil assinaturas, quatro vezes mais do que é necessário no país para concorrer a eleições presidenciais, mas a sua candidatura foi rejeitada devido ao processo criminal em curso.
Já a candidatura de Valeri Tsepkalo, antigo embaixador da Bielorrússia nos Estados Unidos, foi rejeitada por irregularidades – segundo a Deutsche Welle, Tsepkalo conseguiu 160 mil assinaturas, mas a comissão eleitoral apenas considerou válidas 75 mil, menos 15 mil do que as necessárias.
O afastamento dos dois candidatos da oposição foi condenado pela União Europeia, que teme que as eleições não sejam novamente democráticas, sendo que desde 1995 que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa não considera nenhuma eleição na Bielorrússia livre ou justa.
“A exclusão aparentemente arbitrária de candidatos limita a possibilidade do povo da Bielorrússia expressar a sua vontade e compromete a integridade e natureza democrática das eleições”, afirmou em comunicado Josep Borrell, Alto Representante da UE para a Política Externa,
“Ao negar o registo de Viktor Babariko e Valeri Tsepkalo, as autoridades bielorrussas falharam em garantir uma eleição competitiva e justa”, acrescentou.
Descontentamento
As eleições presidenciais estão marcadas para 9 de Agosto e tudo indica que Alexander Lukashenko, apelidado como o “último ditador da Europa”, consiga a reeleição para cumprir o seu sexto mandato na liderança da Bielorrússia.
Contudo, nas últimas semanas, o Presidente que tem governado o país com mão de ferro, tem começado a ser posto em causa e os protestos no país têm aumento substancialmente.
A detenção de Babariko levou milhares de bielorrussos para as ruas, o que voltou a acontecer na terça-feira, quando a comissão eleitoral rejeitou a candidatura do principal opositor do Presidente.
O descontentamento com a presidência de Lukashenko, no entanto, vem de trás e ganhou impulso com as críticas à gestão que o Governo fez da pandemia de covid-19, que fragilizou a economia do país.
A Bielorrússia regista mais de 65 mil infectados com covid-19 e 474 mortos. No entanto, Lukashenko tem vindo a desvalorizar a gravidade da pandemia, classificando-o como uma “psicose” e, em vez de impor medidas de confinamento numa fase inicial, sugeriu aos bielorrussos que bebessem vodka e aumentou a vigilância dos serviços secretos aos cidadãos.
“Não tenho medo de ser detido. Tenho receio de viver sob uma ditadura, com mais cinco anos de medo e humilhação”, disse à Reuters Andrei Tkachvev, médico voluntário que tem ajudado a combater a covid-19 no país e que saiu à rua para protestar contra o Presidente.
O descontentamento dos bielorrussos ganhou voz com o youtuber Serguei Tikhanovski a tornar-se um fenómeno no país, ao gravar vídeos onde lia cartas de cidadãos descontentes com o Governo e com a corrupção no país.
Tikhanovski admitiu a possibilidade de concorrer às presidenciais, mas, tal como outros opositores, foi detido no final de Maio. A sua mulher, Svetlana, no entanto, recolheu assinaturas para se candidatar e a comissão eleitoral validou a candidatura, o que causou alguma surpresa entre os analistas, uma vez que poderá angariar muitos votos de protesto e fragilizar a vitória de Lukashenko.
Contudo, Mariia Rohava, investigadora na Universidade de Oslo, justifica esta posição das autoridades bielorrussas com o facto de Svetlana Tikhanovski estar enfraquecida. “A maioria dos seus apoiantes está na prisão ou sob detenção das autoridades, incluindo o seu marido, por isso, há muita pressão sobre ela”, afirmou a especialista em Estudos Europeus ao Financial Times. “Vai ser interessante ver como ela reage, com quem vai negociar e como fará campanha”, conclui.