É o festival que já irrompe há três anos pelos jardins de Lisboa adentro. Tem como principal objectivo a promoção da consciência ambiental e o contacto com a natureza local. Este ano, com a celebração de Lisboa enquanto Capital Verde, desenhavam-se grandes planos para o Jardins Abertos, mas uma pandemia veio virar tudo do avesso. Ainda assim, a equipa do festival não baixou os braços e lançou-se numa busca incessante por soluções. Assim surgiram as Varandas Verdes, para pôr quatro fachadas de Lisboa a florir.
Financiado pela Câmara Municipal de Lisboa desde a sua segunda edição, em 2018, o festival gratuito e social tem vindo a ganhar cada vez mais terreno. Tomás Tojo, que se formou em Artes, é o grande dinamizador do projecto. Para este jovem, o amor pelas plantas não é uma descoberta recente: desde pequeno que é incentivado pela mãe a “cultivar” e a “ser criativo”, como conta ao P3. Ao longo dos anos, experimentou criar diferentes tipos de plantas e foi-se “fascinando pelas formas”, dedicando-se de corpo e alma aos jardins, “uma obra de arte em constante mutação”. Não seria então de espantar que, no ano de 2017, promovesse o primeiro festival dos Jardins Abertos, contando as histórias dos jardins de Lisboa aos transeuntes.
Porém, este ano, o empreendedor de 29 anos viu-se obrigado, em conjunto com os seus colaboradores, a pensar numa estratégia que contornasse o problema da covid-19, que, se por um lado, reduz as hipóteses de visitas guiadas, por outro vai permitir o alargamento do festival a nível internacional através da Internet, disponibilizando conteúdos em língua estrangeira.
Para além da abertura de vários jardins sociais, públicos, institucionais e até mesmo parques urbanos, numa lógica de que “o distanciamento físico não tem de ser distanciamento social”, nesta edição surgiu a ideia do desenvolvimento de mais espaços verdes na cidade. Mais importante ainda, lançou-se a semente para “a criação e plantação” nas varandas e janelas de vizinhos. Os formulários para a inscrição na iniciativa Varandas Verdes estão abertos até dia 10 de Julho e qualquer lisboeta pode candidatar-se. “Procuramos um perfil de grupo com sensibilidade e consciência ambiental”, conta Tomás, que sonha ver quatro fachadas da sua cidade bordejadas de plantas. Assim que forem seleccionados os grupos de vizinhos com “espírito colaborativo”, serão organizadas sessões virtuais de apresentação e esclarecimentos para o grande dia.
Em cada dia do festival (que decorre nos dois fins-de-semana de 18 e 19 de Julho e 25 e 26 de Julho), uma fachada ganhará vida, esperando-se que as suas sementes germinem. Para assegurar que não há contacto físico entre os colaboradores e a comunidade de vizinhos, os materiais necessários para a plantação do jardim serão entregues à porta de cada casa gratuitamente e as instruções chegarão às varandas através de um megafone. “É uma espécie de flashmob”, comenta Tomás, que procura espalhar estes quatro jardins por diferentes bairros onde “as pessoas não teriam capacidade financeira de adquirir as plantas”. O plano pressupõe também a partilha entre vizinhos, para que cada varanda floresça de diversidade.
Tomás, que já percorreu uma boa parte do mundo, rapidamente descobriu que a sua verdadeira paixão são os projectos sociais e o ambiente. Já lá vão alguns anos desde que se dedica à intervenção em espaço público, tendo dinamizado, em São Paulo, no Brasil, a GreenSP, uma iniciativa que uniu as comunidades locais através da jardinagem. Enquanto criador e artista, sentia muito a obrigação de “estar a dizer algo ao mundo”. Agora, enquanto director do festival, afirma que “a intervenção em espaço público continua a ser criatividade, sem ter essa pretensão” o que lhe traz “uma certa tranquilidade”. No final, “a sensibilização, o semear dentro das mentalidades” é a sua “verdadeira luta”.
Texto editado por Amanda Ribeiro