Covid-19: residências de estudantes com “potencial de contágio” e sem orientação
“Há residências onde vivem 12 jovens num andar e casas que são ocupadas por muitos estudantes. Por isso, o potencial de contaminação é muito considerável”, destaca Gonçalo Leite Velho, presidente do SNESup.
Responsáveis das instituições de ensino superior pedem urgência nas orientações da Direcção-Geral da Saúde para o funcionamento das residências estudantis durante a pandemia, lembrando que são zonas com “potencial de contaminação”.
O presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) e o presidente do Sindicato Nacional Ensino Superior (SNESup) acreditam que as escolas estão preparadas para receber os alunos no próximo ano lectivo, mas alertam para o facto de as residências ou casas partilhadas de estudantes terem “todos os ingredientes para o contágio”.
“É preciso encontrar um conjunto de regras que possam ser adaptadas aos diferentes espaços”, alertou Pedro Dominguinhos, presidente do CCISP, lembrando que em Março o ensino passou a ser feito à distância e a maioria dos alunos regressou a casa. Mas agora o plano A é o regresso ao ensino presencial.
As universidades e institutos politécnicos têm mais de 380 mil alunos e uma grande percentagem estuda longe de casa. Neste momento, os finalistas do ensino secundário já começaram a realizar os exames nacionais, dentro de um mês começam as candidaturas ao ensino superior e no final de Setembro serão conhecidos os resultados da primeira fase. No entanto, as residências e casas que acolhem estudantes continuam sem orientações que lhes permita receber os estudantes em segurança.
O professor e presidente do SNESup, Gonçalo Leite Velho, disse que as “residências de estudantes são grandes unidades familiares”, com grande concentração de pessoas: “Há residências onde vivem 12 jovens num andar e casas que são ocupadas por muitos estudantes. Por isso, o potencial de contaminação é muito considerável”.
Para o docente, "o maior problema de contaminação não é o regresso às aulas” presenciais. Nas escolas, lembrou, os alunos sentam-se espaçadamente, a higiene dos espaços foi reforçada, existem corredores de circulação e é obrigatório o uso de equipamentos de protecção.
Já as residências de estudantes ou casas arrendadas “têm tudo para um cocktail explosivo, porque têm todos os ingredientes para o contágio”, alertou o presidente do SNESUp. Além do elevado número de pessoas a viver num mesmo espaço, as residências têm vários espaços comuns, como salas de estar e cozinhas e até há casas de banho partilhadas.
Preparar estes espaços para reduzir os perigos de contágio obriga a “um planeamento muito complexo”, alertou Pedro Dominguinhos, que também acredita que é mais fácil introduzir e manter regras dentro das escolas. Nas casas de estudantes, esse “controlo é sempre mais difícil”.
Sendo as residências espaços muito diferentes entre si, “cada instalação terá de se adaptar”, mas seria bom ter “um conjunto de regras”, defendeu o presidente do CCISP. “Se aplicarmos as regras definidas para os lares, que não é a mesma coisa, poderá existir uma redução de camas nas residências”, alertou Pedro Dominguinhos, em declarações à Lusa.
O presidente do CCISP lembrou que são muito diferentes as vivências de quem está num lar ou numa residência, já que nos lares, muitas vezes, as únicas pessoas que entram em saem são os funcionários, enquanto nas residências há uma constante movimentação de gente.
Pedro Dominguinhos acrescentou que há instituições que estão em conversações com as entidades locais para encontrar soluções alternativas para os estudantes. Mas para “poder perceber quantas camas estarão disponíveis é preciso planear com alguma antecedência”.
O presidente do Politécnico de Setúbal lembrou à Lusa que “é complexo” o planeamento das residências para estudantes tendo em conta um conjunto de regras que minimizem as probabilidades de contágio de covid-19 para estudantes.
“Era bom que tivéssemos a certeza absoluta de como vai progredir a pandemia”, desabafou, admitindo que estão a ser desenhados vários cenários, mas continuam a faltar as orientações técnicas da DGS.