China encerra locais turísticos após caso de peste bubónica. Rússia também toma medidas
Vários casos de peste bubónica foram relatados nos últimos dias na China. A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida através de animais, pela pulga de roedores, como ratos selvagens.
As autoridades de Bayannur, na região autónoma da Mongólia Interior, fecharam vários locais turísticos nesta quarta-feira depois de ter sido detectado um caso de peste bubónica, noticia a CNN. Os visitantes estão “estritamente proibidos de entrar na zona afectada e de viajar a regiões em redor”, segundo a agência estatal chinesa Xinhua.
Na segunda-feira, a cidade tinha já emitido um alerta (o segundo mais baixo) depois de ter sido diagnosticado o caso suspeito, que foi confirmado na terça-feira. O paciente está estável, isolado e a ser tratado no hospital. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está a acompanhar a situação.
Também as autoridades da República da Buriácia, parte integrante da Federação Russa e que faz fronteira com a Mongólia, redobraram nesta quarta-feira as medidas sanitárias após os casos de peste bubónica detectados no país vizinho. “Um plano com medidas profilácticas e antiepidémicas foi lançado para impedir a chegada do estrangeiro e a propagação da peste”, anunciou o Comité de Defesa do Consumidor da República da Federação da Rússia num comunicado.
Segundo a Defesa do Consumidor, as medidas preventivas adoptadas na Buriácia devem-se à sua proximidade com a Mongólia, onde há focos naturais de peste e onde foram registados nos últimos dias, de acordo com várias fontes, pelo menos três casos. Vários casos de peste bubónica foram relatados nos últimos dias na China.
Milhões de mortes na Idade Média
Esta doença, causada pela bactéria Yersinia pestis, causou três grandes pandemias na história da humanidade. Espalhou-se pelo mundo a partir da Sibéria e da Mongólia, pela Ásia e pela Europa, até ao Médio Oriente e África. A primeira pandemia começou em 541, no Império Romano, e durou dois séculos - foi a Peste Justiniana. A segunda, que ficou conhecida como a Peste Negra, veio da Ásia para Itália em 1346 e continuou durante quatro séculos a infectar a população europeia. Estima-se que ao longo dos séculos terá matado 50 milhões de pessoas, num continente que tinha então 80 milhões de habitantes. A terceira pandemia começou em 1850 na China, e espalhou-se pela Ásia: na Índia terá feito pelo menos 20 milhões de mortos.
A peste bubónica, que matou milhões de pessoas na Idade Média, quando não havia antibióticos ou vacinas, tem milhares de casos notificados todos os anos e é uma doença grave e fatal, sobretudo se a bactéria se espalhar no corpo humano.
O infecciologista Jaime Nina, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, explicou à Lusa que, na ausência de antibióticos e quando uma pessoa é infectada e o organismo não consegue travar a disseminação da bactéria, em cerca de metade dos casos dá uma infecção fulminante e morte. O especialista frisou que a doença só se transmite entre animais, pela pulga de roedores, como ratos selvagens.
É uma doença endémica, ou seja, existe regularmente em várias partes do mundo, como a Ásia Central, Sul da Rússia, China Ocidental, Irão, e também no México, no sudoeste dos Estados Unidos e em certas zonas de África.
Segundo Jaime Nina, nos últimos dez anos, dois terços a três quartos dos casos são notificados em Madagáscar: “É o foco mais activo da peste”. “Os casos notificados são sempre a pontinha do icebergue, sobretudo se for no interior de África, ou na Ásia Central”, sublinhou o infecciologista, explicando que a doença é transmitida pela picada da pulga dos ratos selvagens e que, quando esta, por qualquer motivo, passa para o rato doméstico e se multiplica, acaba por ser mais perigosa pois estes vivem perto do homem.
“Se picar o homem pode transmitir a peste. (…) Fora das epidemias, a peste bubónica é a forma mais frequente de peste”, disse Jaime Nina, explicando que o nome se deve ao facto de a doença fazer um bubão. “O gânglio linfático da zona que drena o sítio da picada incha muito e faz uma espécie de abcesso”. Os sintomas são a febre alta, a “sensação de morte iminente” e a doença é “rapidamente progressiva”.