Jerónimo diz que Orçamento Suplementar fez “opção clara” pelos interesses do grande capital
Para o PCP, a realidade actual “mostra que, na superação dos problemas do país, permanece a necessidade de abrir caminho a uma política que rompa com opções essenciais da de Direita, que o PS não abandonou”.
O secretário-geral do PCP defendeu neste sábado que o Orçamento do Estado suplementar aprovado sexta-feira para reagir às consequências da pandemia de covid-19 reflecte “uma opção clara pelos interesses do grande capital”, negligenciando respostas imediatas aos trabalhadores em dificuldades.
Jerónimo de Sousa abordou o tema numa sessão comemorativa do centenário do nascimento de Mário Sacramento (1920-1969), partindo do exemplo desse “intrépido resistente antifascista e incansável combatente pela liberdade e democracia” para abordar como o seu exemplo “de intensa acção na vida prática” revela “lições para os combates de hoje”, sobretudo nas actuais e “mais exigentes” circunstâncias socioeconómicas da crise gerada pelo vírus SARS-CoV-2.
Referindo que estes são tempos de “agravamento de injustiças e desigualdades” porque “os trabalhadores são atingidos pelos efeitos da epidemia e pelo aproveitamento que fazem dela”, o líder dos comunistas criticou o Governo por, no seu Orçamento Suplementar, ter demonstrado que “escancarava as portas a medidas de favorecimento ao grande capital”.
Para Jerónimo de Sousa, o que se impunha era dar prioridade a “soluções mais imediatas de resposta aos problemas prementes que a actual situação reclama — desde logo o pagamento dos salários, a proibição dos despedimentos, o combate à pobreza, o alargamento da protecção social, o apoio aos rendimentos dos micro e pequenos empresários, o fortalecimento de serviços públicos como o Serviço Nacional de Saúde e reforço do investimento para a dinamização da actividade económica”.
Se o PCP votou contra o documento, foi porque essas são respostas a “problemas que o Governo não assumiu no seu Orçamento Suplementar”, cujo texto final “faz uma opção clara pelos interesses do grande capital”.
Jerónimo de Sousa realça, aliás, que “o que falta em protecção social a centenas de milhares de portugueses — muitos dos quais desprovidos de meios de subsistência — sobra escandalosamente na parcela de apoio ao capital e aos grupos económicos”.
Exemplo disso, para o líder comunista, são também “os mais de 600 milhões de euros que [o Governo] se prepara para oferecer sobretudo às grandes empresas em nome de manterem a actividade e o que se propõe continuar a dar [-lhes] em isenções da Taxa Social Única”, em contraste com a sua “resistência e timidez quando se trata de afectar verbas para o apoio social, para os sócios-gerentes e para o conjunto dos micro e pequenos empresários”.
Para o PCP, a realidade actual “mostra que, na superação dos problemas do país, permanece a necessidade de abrir caminho a uma política que rompa com opções essenciais da de Direita, que o PS não abandonou”, pelo que “o presente e o futuro do povo terá que ser conquistado pela luta”.
A iniciativa em que Jerónimo de Sousa participou hoje, no Museu Marítimo de Ílhavo, constituiu uma homenagem a Mário Sacramento, médico e ensaísta que se destacou em meados do século XX como oposicionista do Estado Novo. Militou no PCP, que seria então a estrutura política mais organizada de Oposição ao regime de António Salazar, e chegou a ser preso cinco vezes pela política do Estado, a PIDE, no período entre 1938 e 1962.
Parte da sua obra literária, de índole neo-realista, foi inclusivamente produzida durante essas detenções, como aconteceu na Prisão de Caxias, onde Mário Sacramento escreveu o livro Fernando Pessoa - Poeta da Hora Absurda.