Paul McCartney, Rolling Stones, Blur e Dua Lipa apelam ao Governo britânico para proteger a indústria da música
“Let the music play” é o nome da campanha criada pela Concert Promoters Association. Signatários da carta aberta lembram que “apoio governamental será crucial para evitar insolvências em massa”.
A organização britânica Concert Promoters Association, em colaboração com artistas, festivais, salas de espectáculos e outros agentes importantes da indústria musical do país (e não só), lançou esta quinta-feira a campanha “Let the music play” (“Deixem a música tocar”), tendo endereçado uma carta a Oliver Dowden, responsável pela pasta cultural do Reino Unido, para lhe pedir que o Governo se comprometa com medidas de apoio a um sector que não conseguirá operar normalmente até 2021, “no melhor dos cenários”. Paul McCartney, Van Morrison, Dua Lipa, os irmãos Gallagher, dos Oasis, Blur, Rolling Stones, Coldplay, Michael Kiwanuka e Queens of the Stone Age estão entre os muitos nomes que já assinaram a carta aberta.
“A música ao vivo do Reino Unido tem sido um dos maiores sucessos sociais, culturais e económicos do país na última década”, começam por assinalar os signatários, salientando que, em 2019, a indústria do espectáculo contribuiu com quase quatro biliões e meio de euros e “210 mil postos de trabalho” para a economia britânica. Com o fim das medidas de distanciamento social ainda muito longe no horizonte, avançam, “o futuro dos concertos, dos festivais e das centenas de milhares de pessoas que neles trabalham é sombrio” e pouco animador.
“Este sector não quer pedir ajuda ao Governo”, sublinham os autores da carta aberta; quer, sim, voltar a ser “auto-suficiente”, “como o era antes do confinamento”. “Mas”, ressalvam, até que os agentes da indústria dos concertos possam retomar as suas actividades a 100% “o apoio governamental será crucial para evitar insolvências em massa”. De acordo com a Concert Promoters Association, quase 50% dos trabalhadores de espectáculos musicais no Reino Unido estão perante situações de desemprego e 90% das salas de concertos encontram-se sob “risco de encerramento”, pelo que, sustenta a organização, precisarão de uma injecção de cerca de cinco milhões e meio de euros para não colapsarem.
Em resposta ao apelo dos signatários, uma representante do departamento de Oliver Dowden, citada pela BBC, frisou que o Governo “já está a providenciar apoio financeiro sem precedentes”. “Reconhecemos que esta pandemia criou desafios enormes para o sector e estamos a trabalhar de perto com os agentes artísticos para que as performances e os eventos ao vivo possam regressar o mais cedo possível”, disse.
Através de uma publicação no Twitter, Dowden esclareceu por sua vez que entende “a profunda ansiedade” com que se confrontam os trabalhadores da indústria musical neste momento, assumindo o desafio de, mesmo mantendo em pé as medidas de distanciamento social, encontrar “datas fixas de reabertura” para os espaços culturais do Reino Unido e um “mapa claro de regresso” à normalidade para o tecido artístico do país.
Ben Lovett, membro dos Mumford & Sons e responsável pelos espaços de concertos Omeara e Lafayette, em Londres, contou à BBC que ficou “triste” e “chocado” depois de conversar com amigos e artistas que, em virtude dos obstáculos económicos levantados pelo novo coronavírus, “decidiram que afinal já não vão ser músicos”. Emila Eavis, co-organizadora do festival Glastonbury – que, recentemente, celebrou o seu 50.º aniversário online, com uma exposição virtual que celebrou o seu extenso arquivo –, assinalou que o Reino Unido pode “perder partes da [sua] cultura para sempre se o Governo não apoiar as artes britânicas”.
No fim de Abril, lembra a publicação NME, a organização Music Venue Trust lançou a campanha “Save our venues” (“Salvem as nossas salas de espectáculos”), um fundo de emergência destinado a tentar equilibrar as contas de mais de 500 recintos espalhados pelo Reino Unido. A meio de Maio, reportava a mesma revista, era anunciado que o apoio tinha “resgatado temporariamente” cerca de 140 espaços, mas a Music Venue Trust insistia na ideia de que esta medida era não mais do que uma “cura rápida”, sendo que a “acção governamental” ainda era essencial.