D. Diogo de Sousa, figura maior do urbanismo de Braga, vai ser evocado num monumento

Inspirado pelas ideias renascentistas com que contactou nas viagens a Roma, o arcebispo de Braga na primeira metade do século XVI alterou a imagem da cidade, com novas praças em redor das muralhas medievais. A Câmara Municipal vai evocar o clérigo numa dessas praças – Conde de Agrolongo -, a partir de um concurso de ideias.

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Se se pegar num mapa de Braga e localizar a cidade medieval, de feição aproximadamente circular, vê-se que o espaço em redor é ocupado por algumas praças. Se se viajar em torno da urbe outrora muralhada, é possível encontrar a Praça da República e a Avenida Central, o Largo Carlos Amarante, o Campo das Carvalheiras, o Campo das Hortas e a Praça Conde de Agrolongo, habitualmente designada Campo da Vinha. Todos esses espaços foram idealizados por D. Diogo de Sousa, arcebispo de Braga entre 1505 e 1532, que se prepara para ser homenageado pela Câmara Municipal com um monumento a instalar precisamente no Campo da Vinha, no canto sudeste, entre a rua dos Capelistas e a rua Doutor Justino Cruz.

“É a figura mais importante do urbanismo bracarense de todos os tempos”, declarou ao PÚBLICO Miguel Bandeira, vereador com os pelouros do urbanismo e do património e também autor de várias publicações sobre o clérigo. “Não é possível compreender o centro histórico de Braga sem revisitar e estudar D. Diogo de Sousa”, acrescenta.

A maioria PSD/CDS-PP que governa a autarquia propôs, nesta segunda-feira, a abertura de um concurso de ideias para a criação de um monumento evocativo ao arcebispo, aprovada por unanimidade em reunião do executivo municipal. O documento incluído na ordem de trabalhos da reunião especifica que a instalação “deve fazer a evocação da personalidade religiosa, mas também secular” de D. Diogo de Sousa, recorrer “a linguagens, processos e materiais de matriz contemporânea” e integrar-se de “forma harmoniosa com o contexto urbano e histórico”.

As propostas podem ser apresentadas até 12 de Outubro e vão ser avaliadas por um júri de sete elementos, que inclui Miguel Bandeira e Ricardo Rio, presidente da Câmara, mas também António Ponte, da Direcção Regional de Cultura do Norte, e João Duarte, da Sociedade Nacional de Belas Artes.

Miguel Bandeira lembrou que a memória do arcebispo foi “sempre exaltada” em Braga. Comprova-o a atribuição do seu nome ao museu de arqueologia da cidade, a um colégio e à rua que criou para unir a rua do Souto e o ponto onde se encontra o Arco da Porta Nova, num exemplo de “urbanismo renascentista”, que promove o “chamado rasgamento de vias rectilíneas nos centros das cidades”. Mas a ausência de D. Diogo de Sousa entre as figuras evocadas no espaço público da cidade era uma “lacuna” que precisava de ser colmatada, frisou o vereador, geógrafo de formação.

A inspiração para o legado que deixou à cidade minhota proveio das duas viagens a Roma, uma em 1493 e outra em 1505, como representante da embaixada portuguesa, informa a nota biográfica que consta do documento aprovado em reunião de Câmara. “Ele assiste em directo e ao vivo às grandes obras urbanísticas, de escultura e de pintura do Renascimento”, disse Miguel Bandeira. Elevado a arcebispo de Braga em 11 de Julho de 1505, após uma década como bispo do Porto, D. Diogo de Sousa encontrou uma cidade “ocupada por quintais, campos e vinhas, dentro e fora da muralha”.

Enquanto senhor da cidade, com poder para organizar a administração e a defesa, fixar impostos e realizar obras públicas, esclareceu Miguel Bandeira, o arcebispo criou praças e ruas a partir das ideias renascentistas, requalificou igrejas, capelas e conventos e criou uma biblioteca associada à Sé Catedral. Construiu também fontanários para melhorar o fornecimento de água à cidade.

A obra do arcebispo contemplou ainda a saúde, com a criação do Hospital de São Marcos, e à educação, com o “lançamento das bases para os estudos gerais em Braga”, que preparavam quem ia para a Universidade de Coimbra. O colégio de S. Paulo foi fundado em 1531, um ano antes da morte do arcebispo. “D. Diogo de Sousa foi, sobretudo, um humanista”, realçou Miguel Bandeira. “Penso que esta homenagem é perfeitamente consensual entre todos os bracarenses”.

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