PAIGC diz que não há condições para reunir o Parlamento e verificar quem tem maioria
Partido diz que há “clima de terror”. Analistas comentam que o país vive uma paralisia institucional muito grave, um regresso de violência pelas forças de segurança e um “cortejo de abusos de poder” de dimensão inédita.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) invoca um “clima de terror” no país para afirmar que não há condições para fazer uma sessão parlamentar que na segunda-feira deveria determinar qual dos dois blocos teria a maioria: se o do PAICG, se o do Presidente, Umaro Sissoco Embaló, já que ambos reivindicam uma maioria e o direito a governar.
Numa carta enviada ao presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Cipriano Cassamá, que convocou a sessão de segunda-feira, o grupo parlamentar do PAIGC não diz claramente que recusa comparecer, mas enumera os motivos pelos quais considera que a sessão não se deve realizar. Diz que “desde a instalação do actual Governo inconstitucional e ilegal, regista-se uma profunda degradação do ambiente político e de segurança no país”, referindo-se ao afastamento, em Fevereiro, pelo Presidente Embaló, do executivo do PAIGC liderado por Aristides Gomes.
Os resultados das eleições presidenciais de Dezembro que elegeram Embaló foram contestados pelo candidato do PAIGC, Domingos Simões Pereira, e o processo corre ainda. Por isso, o analista Rui Landim, ouvido pela agência Lusa, classificou a situação actual como a de “um golpe de Estado em curso, por etapas, e por isso não se pode encontrar uma solução”, declarou, concluindo que “não há condições para o diálogo”.
A comunidade internacional reconheceu a autoproclamação do Presidente Sissoco Embaló, mas insistiu na formação, até 22 de Maio, de um Governo que respeitasse os resultados eleitorais das legislativas de Março, ganhas pelo PAIGC, o que não aconteceu, notou o analista.
“Estamos a assistir a raptos de cidadãos, a ameaças de morte de cidadãos, para não dizer de deputados, raptos de deputados”, disse Landim. O que está a acontecer é, sublinhou, um “cortejo de abusos de poder”, um “festival de repressão” como “nunca se viveu na Guiné-Bissau”.
Ouvido também pela Lusa, o analista guineense Rui Jorge Semedo sublinha que “o grupo que, neste momento, está a controlar as instituições, e sobretudo, os órgãos de soberania, grande parte não é legítimo”. O Governo não é constitucional, o Parlamento está a viver uma “paralisia institucional muito grave” e o Presidente da República “não foi investido conforme as normas constitucionais”, enumerou.
Pior, “estamos a assistir novamente ao regresso da violência protagonizada pelas forças de defesa e segurança”, o que está “a contribuir para o aumento da repressão e perseguição dos cidadãos, sobretudo de pessoas pertencentes ao PAIGC”, disse Semedo.
Na sua carta ao Parlamento, citada pela emissora alemã DW África, o PAIGC refere o sequestro do deputado Marciano Indi, presidente do grupo parlamentar do APU-PDGB e crítico do primeiro-ministro Nuno Nabiam, em Maio, e o rapto do dirigente do PAIGC Armando Correia Dias, em Junho.
O grupo parlamentar diz ainda que houve detenções arbitrárias e raptos de militantes do PAIGC nos últimos dias “por agentes do Ministério do Interior”, incluindo a detenção de elementos do corpo de segurança de Aristides Gomes, em Bissau, “sem acusação formal”.
O PAIGC afirma ainda que “forças da ordem e militares estão a ser destacadas de forma selectiva para seguir e acompanhar deputados” e questiona “se a verdadeira missão é garantir a segurança ou controlar os seus movimentos”.
O grupo nota também que a convocação da sessão plenária “ocorre num momento em que continua a vigorar o estado de emergência sanitária” devido à covid-19 e destaca “a ausência do país de um número considerável de deputados”. A carta pede que sejam criadas as condições para que os deputados possam exercer “livremente as suas funções”.