Posso dar um abraço? E um aperto de mão? Cinco formas de mostrar carinho na pandemia
O território dos cumprimentos e do que devemos ou não fazer nesta fase é ainda incerto. O P3 falou com um especialista em Saúde Pública para perceber o que é aconselhado numa altura em que o vírus continua a circular. Apesar de algumas actividades serem mais seguras do que outras, é importante nunca descurar o distanciamento social e a etiqueta respiratória.
De todas as coisas (e são muitas) que deixamos de poder fazer com a chegada do novo coronavírus e das quais sentimos mais falta, é quase certo que os abraços estão nos primeiros lugares da lista.
Os especialistas em saúde pública e em doenças infecciosas dizem-nos que estar a pelo menos dois metros de distância de outras pessoas e usar máscara são as melhores formas de evitar estar exposto ao SARS-CoV-2. Ou seja, se adicionarmos um abraço ou qualquer outro contacto físico a esta equação, o risco de ficarmos infectados vai aumentar. Mas uma coisa é entender o porquê de não podermos tocar ou abraçar os que nos são mais queridos, algo tão característico e necessário para os humanos. Outra é lidar com os efeitos deste afastamento.
Na “escala” das actividades de riscos, onde se posicionam os abraços e outros cumprimentos? São todos “proibidos”? E que outras formas de demonstrar carinho são aconselhadas? Duarte Vital Brito, médico interno de Saúde Pública e membro da direcção da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), explica que, antes de pensarmos em abraçar alguém que não vive na mesma casa, é preciso ter em conta uma série de questões.
Primeiro, todos devem certificar-se que não têm nenhum sintoma associado ao novo coronavírus (tosse, febre, dores musculares, dores de cabeça). E caso isto aconteça, todos os contactos físicos estão "proibidos”. “É prudente, antes de irmos ter com um amigo, perguntarmos se ele tem sintomas. Pode ser um bocadinho estranho, mas devemos questionar se não tem tido tosse ou febre para nos protegermos. Uma espécie de inquérito antes de passarmos ao abraço”, afirma o médico em conversa com o P3.
Desde Maio que restaurantes, ginásios, espaços comerciais e estádios de futebol estão a reabrir, mas o toque parece ainda ser a fronteira final a ultrapassar para muitos cidadãos, mesmo os que já começam a voltar à “vida normal”. As autoridades de saúde dizem não saber quando será seguro abraçar, tocar e interagir confortavelmente e que podemos mesmo nunca voltar a certos hábitos. Para muitos — incluindo as pessoas mais velhas, os doentes considerados de alto risco, ou para quem é familiar dos mais vulneráveis ao vírus — esta fase é especialmente difícil porque a perspectiva de abraçar os entes queridos outra vez parece muito ainda distante.
Duarte Brito diz que nada será “como dantes”, ou seja, não vai ser possível abraçar ou dar um aperto de mão a qualquer pessoa que conheçamos e por quem passamos na rua. Cada um deve tentar restringir, mesmo nesta fase de desconfinamento, os contactos próximos a um ciclo “muito restrito” de familiares e amigos. E no que toca aos idosos e aos grupos de risco, o especialista em Saúde Pública deixa um aviso: é preciso ter um “cuidado acrescido”.
Quando falamos sobre abraços que são mais e menos “seguros”, o médico refere que, no que toca a este vírus, estamos sempre a jogar com cenários em que é menos e mais provável acontecer uma infecção. Além disso, há sempre que ter em conta, avisa Duarte Brito, os casos assintomáticos: doentes que transportam o vírus, mas que não apresentam sintomas. “O abraço em si acarreta mais riscos que muitos cumprimentos. Menos do que cumprimentar com um beijinho, mas mais do que um aperto de mão. Um abraço é um risco acrescido a qualquer outro comportamento. Há uma menor probabilidade [de infecção], mas não podemos dizer que não existe nenhuma”, diz.
Independentemente da forma como vamos abraçar alguém, há procedimentos que são comuns e que não devemos esquecer: levar ou desinfectar as mãos antes e depois do contacto físico e usar máscara são duas regras “de ouro” já aplicadas a outras situações.
Ainda assim, e mesmo com estes cuidados, Duarte Vital sublinha que estes não são comportamentos com risco zero. “Não é o facto de desinfectarmos as mãos ou usarmos máscara que isto passa a ser um comportamento inócuo”, avança o médico. “Os abraços e cumprimentos alternativos reduzem a probabilidade, mas é de sublinhar que esta nunca será zero, é sempre um risco.” E se, nesta altura, abraçar é um risco, recomenda-se que escolhamos o nosso número limitado de abraços com sensatez.