Temperaturas na Sibéria voltam a bater recordes. Zonas do Árctico chegam aos 45 graus
Temperatura da superfície da Terra atingiu os 45 graus Celsius em diversas regiões do Círculo Polar Árctico a 19 de Junho. No mesmo dia, a temperatura do ar chegou aos 38 graus na cidade siberiana de Verhojansk. Especialistas estão a investigar Inverno “anormalmente ameno” na região russa.
A onde de calor que está a afectar a Sibéria voltou a atingir temperaturas recorde. Depois de a 9 de Junho os termómetros terem chegado a picos anormais para esta altura do ano, algumas cidades russas localizadas no Círculo Polar Árctico chegaram, a 19 de Junho, aos 45 graus Celsius. Os dados, recolhidos pelo Serviço Europeu de Alterações Climáticas do Copernicus, foram divulgados esta terça-feira pela Direcção-Geral da Indústria da Defesa e do Espaço (DEFIS, na sigla inglesa) da Comissão Europeia.
“A 19 de Junho, a temperatura à superfície da Terra atingiu os 45 graus Celsius em diversas regiões do Círculo Polar Árctico”, lê-se no tweet da DEFIS. No mesmo dia, a temperatura do ar chegou aos 38 graus na cidade siberiana de Verhojansk.
Verjoyansk e Oymyakon são conhecidos, refere a agência Lusa, como os dois lugares mais frios do planeta, onde as temperaturas podem cair para mais de 67 graus abaixo de zero. O serviço meteorológico de Yakutia, onde estão localizadas as duas “capitais do frio”, lembrou que nesta parte da Sibéria as temperaturas podem subir até 30 graus no Verão, mas essa situação normalmente ocorre em Julho, e não em Junho.
De acordo com os dados do Serviço Europeu de Alterações Climáticas, em Maio, as temperaturas da superfície em algumas partes da Sibéria subiram até dez graus acima da média. Num comunicado divulgado em meados de Junho, a equipa do Copernicus afirmava que está a investigar não só as temperaturas do mês de Maio, mas também “o Inverno e Primavera anormalmente amenos registados na Sibéria”.
“Não foi apenas Maio que foi anormalmente ameno nesta região. Todo o Inverno e Primavera tiveram períodos repetidos de temperaturas do ar à superfície [da Terra] acima da média, principalmente a partir de Janeiro”, lê-se no comunicado.
Além disso, avançam os autores, nas últimas semanas têm existido relatos de fragmentações excepcionalmente precoces do gelo nos rios da Sibéria, incluindo no rio Ob (um dos principais rios da Sibéria ocidental e o quarto mais longo da Rússia) e no rio Yenisei (um dos principais rios da Ásia e o 14.º mais longo do mundo). No comunicado também se relaciona o degelo dos rios com o enorme derrame de combustível no Árctico, que levou o Presidente russo, Vladimir Putin, a declarar o estado de emergência na cidade de Norilsk no início de Junho. “Foi causado quando um tanque entrou em colapso, provavelmente devido ao degelo do permafrost que estava a suportá-lo”, avançam.
Embora o Copernicus não monitorize o degelo dos rios ou o estado do permafrost, estes incidentes recentes, aliados às temperaturas singularmente altas, levaram a equipa a realizar uma exploração mais aprofundada dos dados.
“Embora o planeta como um todo esteja a aquecer, isso é algo que não está a acontecer de forma igual. O Oeste da Sibéria, por exemplo, destaca-se como uma região que aquece mais rápido do que a média e onde as variações de temperatura de mês para mês e de ano para ano tendem a ser grandes. Isso significa que, em certa medida, grandes anomalias nas temperaturas não são inesperadas. No entanto, o que é anormal neste caso é a quantidade de meses em que as temperaturas mais quentes foram registadas”, lê-se no comunicado Serviço Europeu de Alterações Climáticas.
Os autores dizem ainda que a Sibéria é uma área vasta e que muitas regiões são “escassamente observadas”, o que significa que existem poucos dados directos de temperaturas disponíveis. Ainda assim, a equipa examinou as temperaturas médias mensais na Sibéria ocidental desde 1979 e concluiu que, embora tivessem existido meses em anos anteriores em que as “anomalias de temperatura” eram mais acentuadas, a persistência de temperaturas acima da média por tantos meses seguidos é “incomum”. “Além disso, Maio de 2020 foi de longe o mês mais quente já registado”, concluem.