Luís viu granizo e apaixonou-se pelo clima. Agora, diz o tempo ao Alentejo
O projecto MeteoAlentejo nasceu do fascínio de Luís Mestre pelo clima e tornou-se na primeira Rede Regional de Estações Meteorológicas do país.
A história começa em Serpa, cidade do Baixo Alentejo, onde um pequeno Luís Mestre, de apenas dez anos, assistia a uma queda de granizo. O fascínio foi tanto que, sem o saber na altura, o fenómeno natural viria dar um novo rumo à sua vida. Dezassete anos depois, Luís, assistente operacional do município de Serpa, é o criador de um projecto único em Portugal que informa a população alentejana sobre a meteorologia: o MeteoAlentejo.
Durante anos, Luís alimentou a paixão pelo clima. “Mantinha registos diários do tempo num caderno e criava aparelhos artesanais para a medição da temperatura”, conta ao P3. Mas, como muitos sonhos, este foi sendo relegado para segundo plano: os anos passaram com os cadernos meteorológicos escondidos; até 2011, quando arranjou o seu primeiro emprego num call center e decidiu finalmente investir o seu salário na compra de uma “estação meteorológica mais robusta” vinda de Espanha. Recorrendo a essa estação, que permitia “registar a chuva, a velocidade, a direcção do vento e a humidade”, Luís começou a escrever sobre a meteorologia de Serpa num blogue, com o intuito de “dar a conhecer às pessoas o tempo que fazia em Serpa”.
Mas as dificuldades não ficaram por aqui. Em 2014, a estação comprada começou a dar sinais de avarias — Luís, desempregado na altura, lançou uma campanha de crowdfunding. A campanha revelou-se um sucesso e 117% do objectivo estabelecido foi atingido, instalando-se uma estação meteorológica profissional em Serpa e reparando-se a antiga estação, colocada posteriormente numa povoação vizinha.
Em 2015, Luís recebeu uma chamada telefónica do Instituto Politécnico de Beja, cuja estação meteorológica estava a acusar problemas. Foi prontamente repará-la e passaram a constar três estações no blogue de Luís, que entretanto virara site.
Hoje, o MeteoAlentejo conta com 17 estações meteorológicas (Serpa, Herdade da Bemposta, Beja, Amareleja, Mértola, Moura, Almodôvar, Castro Verde, Sines, Mourão, Évora, Redondo, Estremoz, Campo Maior, Portalegre, Maral e Marvão), graças a mais uma campanha de crowdfunding, parcerias com escolas e associações (como a parceria com a Blitzortung, através da qual se instalou um detector de trovoadas em Serpa) e algum investimento particular. Todas as estações estão complementadas com webcams que filmam em directo, 24 horas por dia, 365 dias por ano, disponíveis no site, que informa sobre o tempo de minuto a minuto.
O MeteoAlentejo cresceu, passando de um pequeno projecto amador para uma grande plataforma que “abrange todo o Alentejo”, tornando-se a primeira Rede Regional de Estações Meteorológicas. Hoje, é seguida por 19.500 pessoas no Facebook, tendo um grande impacto na comunidade alentejana. Todos os dias, Luís é abordado pela população, desde “o cidadão comum ao agricultor”.
Autodidacta, Luís, de 27 anos, opera esta engrenagem praticamente sozinho, ocasionalmente auxiliado por “alguns amigos e familiares”: participa em feiras, realiza workshops e comunica com a comunidade escolar (até porque algumas das estações estão instaladas em escolas).
Apesar de, este ano, a celebração do Dia Mundial da Meteorologia nas escolas não se ter realizado devido à pandemia de covid-19, o jovem não se esquece de deixar uma palavra de agradecimento “aos parceiros que permitiram que o funcionamento das estações continuasse”. Deste modo, mantiveram-se as transmissões diárias da meteorologia nas rádios Voz da Planície e Castrense e semanais na Despertar Estremoz. Entretanto, está prevista a instalação de mais três estações em Vila Viçosa, Vidigueira e Avis até ao final do Verão.
Texto editado por Ana Maria Henriques