Uma publicação no Facebook assinada pela modelo activista negra e transgénero Munroe Bergdorf fez estalar o verniz no seio da L’Oréal, há três anos, e a companhia deixou de contar com a profissional para dar a cara pela marca.
Tudo porque Bergdorf escreveu sobre o “racismo sistémico”, comentando aquela que foi considerada a segunda maior manifestação de extrema-direita dos últimos anos no EUA, em Charlottesville, que incluiu o desfile de milhares de supremacistas brancos, membros do Ku Klux Klan, activistas da chamada “alt-right” e neonazis, levando, na altura, o governador da Virgínia a declarar o estado de emergência.
O post de Bergdorf, entretanto eliminado do Facebook, pedia que os brancos tomassem consciência de qualquer racismo inconsciente: “Sinceramente, não tenho energia para falar sobre a violência racial dos brancos. Sim todos os brancos... Porque a maioria de vós nem sequer vai perceber ou vai recusar-se a reconhecer que a vossa existência, privilégio e sucesso como raça é construída sobre as costas, o sangue e a morte de pessoas de cor”, escreveu então Munroe Bergdorf.
O desabafo valeu-lhe o despedimento, tendo sido quase imediatamente contratada pela rival Illamasqua, que percebeu o potencial onde a L’Oréal leu perigo. Em comunicado, a empresa de maquilhagem considerou que “Munroe encarna a diversidade e a individualidade; e que não tem medo de ser verdadeiramente ela própria. Mas Munroe não se limita a isso. Ela não só fala sobre as questões que a afectam a si como ao resto da nossa geração, procurando melhorar a sociedade em que vivemos”. Uma conclusão a que, parece, a L’Oréal chegou agora, numa altura em que muitos exigem uma tomada de posição por parte das empresas que alegam preocupar-se com a responsabilidade social.
Após uma conversa “honesta, transparente e sensível”, explicou a presidente da L'Oréal Paris, Delphine Viguier, Bergdorf aceitou integrar o Conselho Consultivo para a Diversidade e Inclusão da marca no Reino Unido.
O episódio de 2017 não foi a única vez que a L'Oréal deixou de trabalhar com um modelo por causa de publicações nas redes sociais. Um ano depois, aquela que seria a primeira a usar um hijab, Amena Khan, acabou por dar por terminada a relação com a L'Oréal, após terem sido conhecidas publicações suas no Twitter que retratavam Israel como um Estado “ilegal” e “sinistro”.