A paixão pelo design gráfico surgiu “por acaso”, mas não é por isso menos verdadeira. O designer André Cruz atirou-se ao mundo dos podcasts em busca da partilha de ideias e opiniões sobre design gráfico fora das conferências. Chama-se Sumo e tem já sete episódios, disponíveis no site do mesmo, no Spotify, no Google Podcasts e no Apple Podcasts.
“Demorei meses a encontrar um nome, tenho alguma dificuldade com isso. Sumo agradou-me pela multiplicidade de leituras que permite: sumo no sentido de líquido, sumo no sentido de conteúdo que é preciso espremer e também pela luta japonesa, pelo combate respeitoso entre dois oponentes”, conta André Cruz ao P3. “Procuro que tenha conteúdo pertinente e se tiver de ser incómodo para o convidado também não tenho problemas em sê-lo, na medida em que estou a estimular uma resposta que à partida ele não daria”, acrescenta.
A discussão sobre design gráfico é escassa fora das conferências, “sobretudo no Porto”, mas em Portugal no geral. “Após o término dos estudos, não há grandes plataformas de partilha de dúvidas ou de problemas. Um dos poucos registos que há de comunicação de designers em público são as conferências, mas estas têm um lado muito expositivo e pouco contraditório, não há perguntas, não há interrogação”, explica André Cruz. Assim surgiu a vontade de “querer saber mais” sobre os colegas da área e conhecer “quem está por detrás dos trabalhos que podemos ver nos portefólios”.
Apesar de o foco ser o design gráfico, o podcast é acessível para todos. “Vou tendo algumas reacções de pessoas que não são da área: têm ouvido e tido algum interesse nas conversas porque acaba por não se falar de uma forma demasiado técnica e fala-se de muitas outras coisas que estão ligadas a cultura geral, a cultura popular, a política.”
Os convidados são diversificados e não têm de ser designers gráficos. “Estou a lembrar-me da última conversa que lancei com a Mariana Pestana, que não é designer, mas sim arquitecta. Já o primeiro episódio foi com o primeiro artista a desenvolver uma actividade gráfica no Porto, o Armando Alves, e foi uma escolha começar por ele porque penso que não tem muita visibilidade e foi alguém muito importante”, afirma André Cruz.
Para além dos episódios longos, geralmente com cerca de uma hora, há também os Sumos Concentrados, de apenas cinco minutos. “Tive conversas no Instagram com 14 convidados, aos quais pedia para resumirem a adaptação do trabalho ao confinamento e para partilharem alguma coisa de que se tivesse aproximado durante a quarentena, podia ser um objecto, um livro, uma letra. Fiz esses episódios mais imediatos e é um formato ao qual pretendo regressar”, confessa o designer gráfico.
André Cruz, de 39 anos, já deixou a sua marca no festival de música Nos Primavera Sound. Natural do Porto, é professor de design gráfico na Escola Superior de Media Artes e Design, mas essa não foi a sua primeira paixão: “Sempre estive ligado à música e o gosto do design vem pela relação com a música e as capas de discos. Quando entrei na faculdade foi quando comecei a perceber melhor o que é design gráfico e quando comecei por mim a pesquisar e a estudar”, conclui. Desde então, trabalhou na Casa da Música e, actualmente, trabalha no estúdio Dobra.
Texto editado por Ana Maria Henriques