Morreu José Tavares Moreira, antigo governador do Banco de Portugal

O economista e ex-secretário de Estado tinha sido referido numa investigação da SIC transmitida em Janeiro sobre os Luanda Leaks. Nos anos 90, jogada com ouro do Banco de Portugal nos EUA revelou-se ruinosa.

Foto
José Tavares Moreira tinha 75 anos NFS - NUNO FERREIRA SANTOs

Morreu esta terça-feira, aos 75 anos, José Alberto Tavares Moreira, antigo governador do Banco de Portugal e até há poucos meses chairman do BAI Europa (que integra o Banco Angolano de Investimento), cargo a que renunciou em Janeiro depois de o seu nome ter surgido no trabalho de investigação da SIC com base nos Luanda Leaks.

Economista e jurista de formação, José Tavares Moreira fez o seu percurso profissional no sector bancário, tendo passado pelas administrações do Banco Pinto & Sotto Mayor, da Caixa Geral de Depósitos e do Central Banco de Investimento (CBI) da Caixa de Crédito Agrícola.

Foi secretário de Estado do Tesouro por duas vezes (no Governo da AD, em 1980-81, e depois no primeiro Governo de Cavaco Silva, em 1985), tendo depois sucedido a Vítor Constâncio como governador do Banco de Portugal, cargo que exerceu entre 1986 e 1992. Depois disso ainda foi eleito deputado do PSD pelo círculo de Braga, entre 2002 e 2005.

Foi nessa altura que Tavares Moreira se viu envolvido, juntamente com o dirigente socialista José Lemos, num procedimento do Banco de Portugal por gestão danosa que culminou na sua condenação a uma multa de 180 mil euros e proibição de exercer funções na banca por sete anos, confirmada judicialmente. O processo acabou por prescrever entre recursos e Tavares Moreira regressou à banca, desta vez ao angolano BAI Europa, onde se manteve até Janeiro deste ano. Em causa estava a falência do Central Banco de Investimento e a convicção do Banco de Portugal de que a administração de Tavares Moreira e José Lemos apresentara contas falsificadas e dados errados, para ocultar prejuízos registados pelo CBI entre 2000 e 2001. O caso também deu origem a uma queixa-crime, arquivada em 2006 por falta de provas.

O caso do ouro

O mandato de Tavares Moreira como governador do BdP também foi polémico. No início dos anos 90, sob a sua gestão, o BdP investiu 17 toneladas de outro junto da Drexel Burnham Lambert Trading Company, uma instituição norte-americana criada pelo magnata e especulador Michael Milken, considerado um dos criadores dos fundos de altíssimo risco dos anos oitenta. O The New York Times chamou a Milken símbolo proeminente da máxima “the greed is good” [a ganância é positiva]. A jogada revelou-se ruinosa: Milken, que já estava acusado de vários crimes de fraude desde 1989, começou mesmo a ser condenado e o BdP recuperar apenas uma pequena parte do ouro investiu na Drexil, atacada pelos credores. E Milken continuou a acumular processos, para finalmente beneficiar, já em Fevereiro deste ano, de um indulto do Presidente Trump. Portugal tentou recuperar o ouro numa acção judicial que ficou menos famosa pelos proveitos do que pelos custos - falava-se então em cerca de quatro milhões de contos. O PS chegou a apresentar projectos de deliberação para que Tavares Moreira fosse chamado à comissão de Finanças e para um debate sobre a matéria com o ministro das Finanças no Parlamento, iniciativas que acabaram por caducar sem votação.

O Presidente da República publicou uma nota no site na qual envia condolências à família do antigo governador do Banco de Portugal e afirma que, “em todos os cargos que exerceu, Tavares Moreira deixou a marca da sua competência e do seu rigor e, bem assim, da sua discreta afabilidade de trato, hoje recordada por todos quantos o conheceram”.

O PSD também emitiu uma nota de pesar, na qual recorda o percurso profissional e político de Tavares Moreira e apresenta condolências à família.

Sugerir correcção