França vai abandonar técnica policial que asfixiou Floyd
O ministro do Interior de França anunciou esta segunda-feira que a polícia francesa vai deixar de utilizar a técnica de controlo que levou à asfixia de George Floyd, como parte de uma política de “tolerância zero” com o racismo. Christophe Castaner anunciou que “o método de prender o pescoço através de estrangulamento será abandonado e deixará de ser ensinado nas academias de polícia”.
“Nenhum racista pode envergar dignamente o uniforme da polícia ou da gendarmerie”, disse o ministro numa conferência de imprensa, depois das manifestações de milhares de pessoas em França contra o racismo e a violência policial, no contexto dos protestos globais pela morte do norte-americano George Floyd e de novos dados relativos a um caso ocorrido em França em 2016.
George Floyd, um norte-americano negro de 46 anos, morreu de asfixia depois de um polícia o ter imobilizado pressionando-lhe o pescoço com o joelho durante quase nove minutos.
O caso, ocorrido a 25 de Maio, em Minneápolis (Minnesota), deu origem a protestos em dezenas de países, nomeadamente em França, onde no sábado mais de 23 mil pessoas se manifestaram contra o racismo e a violência policial, a propósito do caso de George Floyd, mas também de Adama Traoré, um jovem negro que morreu em 2016 numa esquadra da região de Paris.
Os protestos em França levaram o Presidente, Emmanuel Macron, a pedir ao Governo para acelerar a apresentação de medidas para melhorar a actuação da polícia.
“Quero uma tolerância zero em relação ao racismo nas forças policiais”, disse Christophe Castaner ao anunciar uma série de medidas, acrescentando desejar que “cada suspeita comprovada de afirmações racistas” por parte de membros das forças policiais leve “sistematicamente a uma suspensão”.
O ministro anunciou também uma reforma “profunda das inspecções do Ministério do Interior”, para assegurar “mais independência”.
A Inspecção Geral da Polícia Nacional (IGPN), a “polícia da polícias” francesa, divulgou nesta segunda-feira que em 2019 recebeu um número sem precedente de inquéritos judiciais (1460), mais de metade dos quais (868) relativos a acusações de violência policial.
Vários desses processos relacionam-se com o movimento dos Coletes Amarelos, que promoveu manifestações semanais entre o final de 2018 e o princípio de 2019, com vários manifestantes feridos ou mutilados devido ao uso de balas de borracha e de granadas de dispersão (sting-ball) pela polícia.
Referindo-se aos protestos, Castaner disse ouvir “esse grito” contra o racismo e a discriminação, mas frisou “lamentar e condenar com firmeza” os distúrbios e a violência “fruto da acção de uma minoria”.
“Tenho, com as nossas forças policiais, uma exigência especial. Digo-o com firmeza: o racismo não tem lugar na nossa sociedade e ainda menos na nossa polícia republicana. Não deixarei que as acções desprezíveis de alguns lancem o opróbrio sobre toda uma instituição”, afirmou.