No Brasil, morre uma pessoa a cada minuto devido à covid-19

Brasil é o segundo país com mais casos de infecção e o terceiro com o maior número de mortos. País não está a conseguir achatar a curva e a fraca testagem não revela a verdadeira dimensão do problema.

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Enterro em São Paulo, estado mais afectado pela covid-19 no Brasil Reuters/AMANDA PEROBELLI

O Brasil tornou-se no terceiro país com mais mortes causadas pela covid-19, atrás dos Estados Unidos e Reino Unido. Na quinta-feira chegou a 614.941 infectados e 34.021 óbitos.

Segundo os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde brasileiro, o país registou em 24 horas 30.925 novos casos de infecção e 1473 pessoas morreram, o que, conforme nota a Folha de São Paulo, que esta sexta-feira pôs um fundo preto no seu site em homenagem às vítimas da pandemia, faz com que morra mais de uma pessoa a cada minuto devido à covid-19.

Este foi o segundo dia consecutivo em que o país atingiu um número muito elevado de mortes – na quarta-feira, foram registados 1349 mortos. No boletim divulgado pelo Governo na quinta-feira à noite, anunciado com mais de três horas de atraso em relação ao que é habitual, há ainda indicação de 4159 mortes que estão a ser investigadas.

Estes dados surgem numa altura em que vários governadores e prefeitos começam a aliviar restrições nas medidas de confinamento, numa tentativa de diminuir os prejuízos causados à economia. Acabar com as restrições por motivos de saúde é o objectivo do Presidente Jair Bolsonaro, que desvaloriza a covid-19 e opõe-se a medidas de distanciamento social. No entanto, a grande maioria dos hospitais do país está no limite - segundo a Folha, cinco estados brasileiros, Amapá, Pernambuco, Acre, Rio Grande do Norte e Maranhão, todos no Norte e Nordeste, têm mais 90% das camas de cuidados intensivos ocupadas.

O estado que concentra o maior número de casos é o de São Paulo – 8560 mortes e 129.200 infectados -, seguido pelo Rio de Janeiro, com 60.932 casos diagnosticados e 6327 óbitos.

Neste cenário preocupante, Ceará, Pernambuco e Espírito Santo começam a demonstrar uma tendência de estabilização no registo de novos casos, contudo, o Ministério da Saúde diz que ainda é cedo para tirar conclusões. As regiões norte e nordeste, destaca o El País Brasil, são os principais focos da pandemia no país, que começa a avançar no sul, no centro-oeste e no sudeste.

Pico ainda não foi atingido 

Fazem-se ainda poucos testes no país, o que leva a crer que o número de infectados possa ser muito superior ao dos dados do Governo, dificultando a tarefa para os epidemiologistas de aferirem a verdadeira dimensão e intensidade da pandemia. Além disso, ao contrário do que aconteceu nos países que registam o maior número de infectados, o Brasil ainda não conseguiu achatar a curva de disseminação da doença, o que faz antever que a situação se pode agravar ainda nas próximas semanas, antes de estabilizar.

“A aceleração da curva no Brasil é muito maior hoje do que na Rússia e nos Estados Unidos. Então, o número de casos está aumentando aqui de forma muito mais acentuada”, afirmou ao G1 Marcelo Medeiros, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, que, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, realizou um estudo que comparou a situação no Brasil com outros países.

“O Brasil hoje é o epicentro, é onde tem as maiores taxas de reprodução, de transmissibilidade. A gente ainda está numa parte inicial da curva, bem longe ainda de chegar a um pico, como os demais países que já começaram a flexibilização”, sublinha Marcelo Medeiros, professor de Economia na Fundação Getúlio Vargas.

Acresce que a capacidade de testagem do país continua muito abaixo do que era necessário. O Governo diz ter reforçado os laboratórios e aumentado o número de testes rápidos, no entanto, segundo a versão brasileira do El País, nos laboratórios estão mais de 190 mil testes à espera de serem analisados.

Durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde demitido por Bolsonaro, foram anunciados inquéritos epidemiológicos e a instalação de centros de testagem rápida nas cidades mais populosas. No entanto, dois meses depois, a proposta continua na gaveta, apesar de o Governo garantir que o processo está na fase final de operacionalização.

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