Jantar na Baixa do Porto não é uma missão impossível, mas já foi em tempos um plano mais fácil: junta-se o turismo aos conceitos gourmet e surge o problema que afecta tantos tripeiros que carreguem consigo o amor à cidade (e aquele sentimento de posse, por vezes em níveis não saudáveis, de quem não quer que mexam no que é seu). Nasceu a meio da Rua Mouzinho da Silveira, do lado esquerdo de quem desce, um espaço que promete trazer ao Porto o que é do Porto: a cozinha de conforto e os pratos tradicionais portugueses. Eis a Cervejaria Fininho.
Quem nos recebe à porta é Teresa Bianchi (ou “Teresa do Fininho”, como sugere), a proprietária do espaço. Este é o primeiro Fininho em Portugal mas a sua história conta com mais de uma década, com o primeiro restaurante a abrir em 2009, em Angola. “A minha irmã [Inês Bianchi] vive em Luanda e foi ela que começou o conceito lá. Apaixonou-se pelo país e achou que fazia lá falta um espaço deste género. Tanto correu bem que neste momento são sete restaurantes em Angola”, explica. O aumento do turismo no Porto e uma grande vontade de apostar na cidade levaram Teresa a trazer o Fininho à sua casa.
O espaço amplo e moderno engana aqueles que não saibam para o que vão. “Não há cá microlegumes, não há espumas de bacalhau, não há nada disso. Eu gosto disso, mas não é sempre”, diz Teresa, com um ar bem-disposto. “Quando quero almoçar, quero uma salada e quero um bife”. Nas paredes, destacam-se os painéis de azulejos pintados à mão por dois artistas, Telmo Pereira e Lucienne Cruz. A ideia de um local “clean e confortável” faz parte da filosofia que Teresa imaginou para o Fininho portuense: “É um sítio para vir com a família, com crianças, tudo.”
Cultivar a relação com os clientes é também uma das prioridades de Teresa, que assume essa posição com naturalidade, pois “num conceito destes faz parte”. O turismo “trouxe, obviamente, as suas vantagens” mas trouxe também consigo um cunho de “impessoalidade” no tratamento dos clientes. “Os portuenses têm razão quando deixam de vir para a Baixa porque faz falta um sítio onde são bem recebidos e podem estar descontraídos o tempo que quiserem sem um “olhe, vou precisar dessa mesa”. Isso não vai acontecer aqui”, assume.
E à mesa nenhum dos pratos é desconhecido. O destaque vai para o bife do lombo com molho à Fininho (15€) e para a francesinha (9€), “como não podia deixar de ser”. Mas há mais por onde escolher: alheira com ovo (9€) ou esparguete com camarão (10€) para prato principal e um leque de petiscos que vai desde o chouriço assado (4€) e o pica-pau (5€) aos pimentos padrón (4€) e às favas com chouriço (6€). Para sobremesa, Teresa não tem dúvidas quanto ao que sugerir: uma mousse de chocolate (2,50€).
A bebida por excelência só podia ser uma: cerveja. Aqui, as culturas cruzam-se e tanto pode optar por um fino de Nortada (1,50€), um toque de “bairrismo” nortenho, ou por uma Cuca, uma cerveja angolana “mais leve”.
Teresa, que colabora também com o restaurante LSD - Largo de São Domingos e com a Casa de Pasto da Palmeira, acredita num conceito: “Eu não mudo de casa muitas vezes, mas quando mudo gosto de dizer que há uma cantina, o restaurante mais perto de casa onde vamos quando não apetece cozinhar, por exemplo.” Tem esperança que o Fininho possa ser uma dessas cantinas na Baixa do Porto e nem sequer a pandemia foi capaz de deitar abaixo as suas expectativas. “Eu acho que esta altura é óptima para novos começos”, acrescenta. Sobretudo se forem começos com cheirinho a chouriço assado e a cerveja ao fim da tarde.
Texto editado por Sandra Silva Costa