Reservas na hotelaria sinalizam procura de turistas estrangeiros
A maior parte das reservas são de portugueses, mas Espanha, Reino Unido, Alemanha e França não deixam de querer marcar presença no mercado nacional. Mesmo assim, a procura fica ainda muito abaixo de 2019, com a Associação da Hotelaria de Portugal a falar de “ano perdido”.
A maior fatia das reservas feitas junto dos hotéis no mercado nacional são de portugueses, com um peso de 34,7% mas os estrangeiros dão sinais de querer passar férias em Portugal, mesmo em tempos de covid-19. De acordo com os dados do terceiro inquérito sobre o impacto do novo coronavírus no sector feito pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) no final de Maio, Espanha surge na linha da frente dos mercados emissores, com 20,7% das reservas de alojamento, seguindo-se o Reino Unido (16,8%), França (14,7%) e Alemanha (9,4%).
Do lado português, o executivo liderado por António Costa tem conduzido negociações bilaterais com vista à demarcação de corredores aéreos, com destaque, até ao momento, para a Alemanha e para o Reino Unido (onde está previsto a realização de quarentenas). Estes países são, tradicionalmente, os maiores mercados emissores de turistas para Portugal.
Apesar da manifestação de interesse de estrangeiros, a presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira, numa apresentação de resultados do inquérito aos jornalistas, não deixou de vincar que “o mercado fundamental nesta altura é o português”. Isto num cenário de encolhimento do sector.
A esmagadora maioria das unidades hoteleiras está a abrir as portas ao Verão, mas com uma oferta menor (38% diz que redução da capacidade será até 50%). As perspectivas não são animadoras, com grande parte das empresas a apontar, com base nas reservas, para uma taxa de ocupação, em Julho, até 20% (69% das respostas), ou entre 20% e 40% (20% das respostas). O cenário melhora à medida que os meses de Verão vão passando, mas mesmo em Setembro a maior parte continua a apontar para ocupações até 40%.
Para a AHP, uma boa notícia foi o facto de haver uma grande expressão de reservas directas, com um peso de 36%, cabendo 40% ao Booking e 20% à Expedia. Estes dois últimos, afirmou Cristina Siza Vieira, são “parceiros essenciais”, mas “a dependência que se cria relativamente a estes operadores traz custos elevadíssimos” aos hoteleiros.
Saldos não, “ajustes” sim
De acordo com a presidente executiva da AHP, “não vai haver saldos” no sector, mas sim “ajustes nos preços”, com “promoções e upgrades”, até porque, sublinhou, “os custos vão crescer” por via das exigências de higiene e segurança. Dos que responderam ao inquérito, 37,5% afirmou que a descida de preços será inferior a 20%, com outros 21,8% a falar em cortes de 20% a 40%.
Praticamente unânime (com 97,6% das respostas) é a ideia de que são necessárias, após o processo de reabertura das unidades, “medidas extraordinárias de apoio específico ao turismo” por parte do Governo. E, logo à cabeça, o que as empresas do sector defendem é a continuação do layoff, medida, aliás, a que recorreram 90% dos inquiridos (a maioria dos quais optou pelo três meses de apoio).
Ainda esta quinta-feira (dia em que o Conselho de Ministros vai aprovar o Programa de Estabilização Económica e Social), a Confederação do Turismo de Portugal emitiu um comunicado sobre o plano de retoma do sector que entregou ao Governo, e no qual defende o prolongamento do layoff simplificado, “adaptando-o à evolução da retoma do turismo, até ao primeiro semestre de 2021, abrangendo a totalidade dos ramos turísticos”.
A inexistência do layoff, se for o caso, é vista como um dos “principais condicionantes à operação”, sendo que no topo da lista estão os condicionamentos ao tráfego aéreo (28,3%) e o medo de viajar provocado pelo covid-19 (23,7%). No primeiro caso, várias companhias áreas, como a Air France-KLM, a Lufthansa, a Ryanair ou a Easyjet, além da TAP, estão a começar a retomar várias ligações envolvendo Portugal.
Falando de um certo clima de “esperança” para o segundo semestre, depois das quedas abruptas de Março, Abril e Maio que marcam a primeira metade do ano pela negativa (com a maioria a apontar para uma queda da taxa de ocupação entre 70% e 90%), Cristina Siza Vieira afirma que a projecção da AHP para este ano aponta para uma perda de 34,8 milhões de dormidas, e de 3,2 mil milhões de euros em termos de receitas (-70% face a 2019, o último de uma série de vários anos de crescimento). Embora haja “balões de oxigénio”, “não vamos ter ainda este Verão nada que permita pensar em retoma efectiva”. Assim, 2020 “vai ser um ano perdido”, acrescentou.