Detenção de jornalistas da CNN em Minneapolis “é o tipo de coisa que acontece em ditaduras”
Equipa de reportagem do canal norte-americano foi libertada horas depois, com um pedido de desculpas do governador do Minnesota. CNN acusa polícia de violar a liberdade de imprensa.
A polícia do estado norte-americano do Minnesota deteve, esta sexta-feira, uma equipa de jornalistas da CNN que estava a acompanhar os protestos anti-racismo e os distúrbios violentos na cidade. Numa reacção às detenções, e já depois de os quatro jornalistas terem sido libertados, com um pedido de desculpas do governador do estado, a repórter Christiane Amanpour disse que é “o tipo de coisas que acontecem em ditaduras e regimes autoritários.”
As detenções aconteceram em directo, na madrugada desta sexta-feira, quando o jornalista Omar Jimenez e a sua equipa filmavam as preparações para uma possível investida da polícia antimotim em Minneapolis.
Na última noite, uma multidão em fúria ateou fogo a uma esquadra da cidade, entre os protestos contra a morte do afro-americano George Floyd, na segunda-feira, sufocado pelo agente da polícia Derek Chauvin quando estava desarmado, algemado e dominado.
O jornalista Omar Jimenez, que descrevia a tensão na cidade, comunicou aos agentes da polícia antimotim que se afastaria assim que a investida estivesse prestes a começar. Mas acabou por ser algemado e detido, juntamente com o repórter de imagem e o produtor da equipa.
“Podemos recuar para onde quiserem”, disse o jornalista aos polícias, em resposta aos pedidos para se afastar do local. “Estamos no ar, somos quatro, somos uma equipa.”
“Ponham-nos onde quiserem que fiquemos, nós sairemos do vosso caminho. Basta avisarem-nos”, reforçou o repórter da CNN antes de ter sido algemado e detido.
"Sem sentido"
O ex-polícia e comentador da CNN Charles Ramsey, que chefiou departamentos de polícia em Washington D. C. e em Filadélfia, descreveu a detenção dos jornalistas como “uma acção sem sentido”.
“A polícia estadual vai ter de explicar muito bem esta detenção. Ele [o jornalista] estava imóvel e identificou-se. As credenciais estão visíveis. Bastava afastá-lo para o sítio onde queriam que ele ficasse”, disse o antigo chefe de polícia.
Logo após a detenção, a direcção da CNN exigiu a libertação dos quatro jornalistas, o que veio a acontecer pouco depois, com um pedido de desculpas do governador do Minnesota, Tim Walz.
“Foi uma clara violação dos direitos consagrados na Primeira Emenda”, disse o canal, acusando a polícia de Minneapolis de violar o direito à liberdade de imprensa.
Assim que a detenção aconteceu, vários colegas de Omar Jimenez reagiram com espanto e indignação ao que tinham acabado de ver em directo.
“O meu colega Omar Jimenez, que estava a fazer a sua reportagem de forma calma e cooperativa, acabou de ser detido em directo na televisão, juntamente com a sua equipa”, disse o pivô da CNN Jim Sciutto, no Twitter.
Na mesma rede social, outra jornalista da CNN, Abby D. Phillips, mostrou-se indignada e chocada com a detenção do colega. “A polícia de Minneapolis deteve o Omar Jimenez em directo. O que é que se está a passar?? E a nossa equipa de filmagem e o produtor também foram detidos.”
Chad Phillips, também da CNN, disse que ficou “sem palavras” ao testemunhar a detenção do colega.
Horas depois da detenção, a jornalista Christiane Amanpour, da CNN, disse que os repórteres foram libertados e que o governador do Minnesota, Tim Walz, pediu desculpa pela acção da polícia.
“Para que fique registado: deter jornalistas é o tipo de coisas que acontecem em ditaduras e regimes autoritários”, disse a experiente repórter. “Nós vivemos numa democracia.”