A história de Archie Williams leva Simon Cowell a lutar pela reforma do sistema judicial dos EUA
Concorrente do America’s Got Talent esteve 36 anos na prisão por um crime que não cometeu. A história motivou o jurado britânico a tornar-se embaixador do Projecto Inocência.
A história é comovente e já levou Simon Cowell, conhecido pela sua postura crítica, a ser solidário e a dar a cara pelo Projecto Inocência que defende presos condenados injustamente. A mais recente edição do concurso America’s Got Talent estreou-se nos EUA nesta terça-feira e o caso de Archie Williams, cantor e um dos concorrentes que passou da prisão para o palco, tornou-se popular.
Aos 59 anos, natural do Luisiana, Williams esteve preso durante 36 anos por um crime que não cometeu. Em 1983, então com 22 anos, foi condenado por violação e tentativa de homicídio e sentenciado a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. Corridos 12 anos pediu ajuda ao Projecto Inocência que se manteve ao seu lado durante mais de 20 anos, fornecendo apoio legal, e conseguindo a sua libertação em 2019, quando a análise de impressões digital recolhidas no local do crime permitiu encontrar o verdadeiro culpado.
“Esta é uma audição que nunca vou esquecer”, admitiu o britânico Simon Cowell, que se tornou agora um dos rostos do Projecto Inocência. A interpretação emotiva de Don't let the sun go down on me teve direito a ovação de pé por parte de público e júri, sendo que até Elton John, um dos compositores do tema juntamente com o letrista Bernie Taupin, reagiu no Twitter comparando o espírito de Archie Williams ao de Nelson Mandela.
Numa mensagem partilhada no site da iniciativa — que se diz “comprometida em libertar um número impressionante de inocentes que estão presos, assim como promover reformas no sistema judicial que previna futuras injustiças” – o jurado britânico declara que a história de Williams foi um “abrir de olhos” quer para si, quer para a sua família e amigos. Simon Cowell junta-se assim a uma lista de quase 40 figuras públicas, entre as quais Chris Martin, vocalista dos Coldplay, a actriz Whoopi Goldberg ou o apresentador Stephen Colbert que tentam usar as suas plataformas para chamar a atenção aos objectivos e casos acompanhados por este projecto.
Numa conversa entre Simon Cowell, Vanessa Potkin, directora dos processos de litigação após as condenações, e Barry Scheck, co-fundador do Projecto Inocência, partilhada no YouTube, o jurado inglês lembra o sentimento de injustiça que sentiu ao conhecer o caso de Williams e espera que este seja um ponto de viragem para pessoas que, tal como o concorrente do programa, foram condenadas injustamente.
O produtor de 60 anos acrescenta que a performance do cantor foi “provavelmente a mais importante na história do America’s Got Talent” e que a sua experiência “trágica” é mais “comum do que a maioria das pessoas pensa”. Simon Cowell não poupa elogios ao Projecto Inocência: “Estas pessoas não se limitam a falar, elas agem efectivamente.” E considera que “não mudam apenas a vida dos condenados, elas salvam-nas”.
Se por um lado o jurado que já passou por diversos programas de televisão se considera “honrado” por poder ajudar no que lhe for possível, a própria organização do projecto sublinha a importância que a associação de figuras públicas traz para o reconhecimento dos casos em que trabalham.
Na mensagem publicada no site do projecto, Vanessa Potkin lembra que “muitas vezes as vozes como a do Archie são silenciadas e ignoradas”. Por isso, tem um enorme impacto quando as celebridades que são convidadas para serem embaixadores do projecto podem usar as suas plataformas, defende.
Neste momento, o Projecto Inocência conta com 56 organizações na sua rede nos EUA onde dizem já ter havido mais de 2600 exonerações desde 1989, o que representa “mais de 23 mil anos perdidos em condenações erradas”.
Segundo a iniciativa, as principais causas para estes erros nas condenações devem-se a “enganos na identificação por parte de testemunhas, falsas confissões, informadores não confiáveis, advogados de defesa inadequados, má conduta policial e de acusação, assim como enviesamento racial no sistema judicial”.