Nas Honduras, as prisões estão sobrelotadas — e a covid-19 veio piorar a vida dos reclusos

São 454 reclusos numa prisão com capacidade para 70. Na prisão La Esperanza, a vida já não era fácil devido à sobrelotação, mas a covid-19 veio tirar as “tréguas” aos reclusos: acabaram-se as visitas da família. “É a pior coisa que pode acontecer. É o que eles mais precisam porque, mais do que qualquer outra coisa, dá-lhes esperança.”

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Para Yerbin Estrada, a pior parte do dia é quando o sol começa a pôr-se. É nessa altura que as centenas de reclusos da prisão La Esperanza, no centro das Honduras, devem deixar o pequeno pátio e voltar às celas sobrelotadas.

“É aí que o inferno começa”, diz o homem de 25 anos, bem constituído e com uma farta barba, olhando uma última vez para os guardas armados empoleirados no telhado.

Durante a noite, dentro do quarto onde vivem mais 130 homens, Estrada ouve as lamentações abafadas dos vizinhos e o som dos ratos que passam.

Estrada está a cumprir o quarto ano de uma pena de seis por posse de marijuana, nesta prisão de baixa segurança, que se esconde entre os pinheiros e as montanhas no centro das Honduras. La Esperanza significa “esperança”.

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Atrás das grades, a principal lei é aquela que reina na América Central, uma espécie de mantra que se espalha dentro de paredes de bairros controlados por gangues: ver, oír y callar. Ver, ouvir e calar. “A melhor forma de sair daqui ileso é mantendo a cabeça baixa”, explica Estrada, tranquilamente.

Um quadro branco na entrada mantém um registo diário. A linha de cima nunca muda: “Capacidade da prisão: 70 reclusos.” Mas as linhas abaixo contabilizam o número real de prisioneiros. Contagem de hoje: 454.

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Para o director Jose López Cerrato, as raízes dos problemas de La Esperanza são as mesmas que se espalham por toda a América Latina: sentenças duras por pequenos crimes, falta de investigação policial adequada e muitas pessoas a serem detidas sem queixas, normalmente por muitos anos.

A única “trégua” destes reclusos são os dias de visitas, quando crianças, avós e esposas trazem uma nova vida ao pátio, assumindo o comando da cozinha, jogando à bola e rezando com os reclusos.

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Mas, devido ao surto de coronavírus, as autoridades baniram as visitas. E com os altos custos das chamadas feitas a partir dos três telefones que funcionam na prisão, os reclusos estão agora completamente privados de contacto com o mundo exterior.

Além dos riscos sanitários provocados pela sobrelotação, os funcionários receiam que a pandemia afecte também a saúde mental.

Proibir as visitas é a pior coisa que pode acontecer. É o que eles mais precisam porque, mais do que qualquer outra coisa, dá-lhes esperança”, diz Jacinto Hernández, psicólogo da prisão. “Temo que eles se possam tornar violentos à medida que o vírus se propaga e a ansiedade aumenta. Os níveis de agressividade já são altos; eles não têm, praticamente, espaço para respirar.”

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Hernández estima que um quinto da população de reclusos deixa a prisão com stress pós-traumático. As Honduras têm mais de dois mil casos de coronavírus e 120 mortes, apesar de os especialistas em saúde pública acreditarem que estes números são, na realidade, mais altos.

Até agora, as 29 prisões do país têm escapado ao vírus, mas se ele chegar a entrar, as consequências podem ser devastadoras. As prisões da Honduras, pensadas para cerca de dez mil reclusos, albergam na verdade 22 mil, de acordo com contagens recentes.

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Construída em 1937, com um estilo colonial imponente, a La Esperanza tem uma estrutura amarela e azul e situa-se junto da praça principal da cidade, onde jovens apaixonados, sentados em bancos, roubam beijos.

O recurso a água apenas está disponível algumas vezes durante a semana e, com apenas uma casa de banho partilhada, os homens tomam banho no pátio, com baldes de água fria, usados também para lavar as roupas que vestem. Doenças respiratórias são comuns, resultado de dormirem no chão, expostos ao ar frio da montanha.

Na maior parte dos dias, os homens dedicam-se ao artesanato, levantam pesos improvisados ou jogam às cartas para se manterem ocupados.

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Antes do coronavírus, os familiares dos reclusos vendiam os produtos que os homens faziam — redes de pesca, carros de brincar — para angariar dinheiro para sabão, café e cigarros. Traziam empanadas, frango frito e tamales — um alívio perante a dieta insuficiente da prisão, à base de arroz e feijão.

Intibucá, onde a prisão de La Esperanza se localiza, é uma das áreas mais pobres das Honduras. O analfabetismo é alto e o alcoolismo generalizado. Os crimes mais comuns são violência doméstica, posse de droga e homicídio.

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“É complicado respirar, mas no Verão é o verdadeiro inferno e consegues sentir os corpos de toda a gente”, diz Erlin Mendez, 27, que partilha o seu espaço de cerca de 98 centímetros com outro recluso, que diz ter sido preso por homicídio depois de uma luta de catanas, estimulada pelo consumo de álcool.

Os reclusos com sorte suficiente para terem camas, e especialmente camas com cortinas, alugam-nas a outros que recebem visitas de mulheres. “Estas visitas definitivamente mantêm as tensões baixas”, diz Israel Miranda, 36. Cada um dos quartos sem janelas é um labirinto escuro de camas de madeira improvisadas.

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Mas há outra parte da prisão reservada a reclusas. Debaixo de um telhado de latão enferrujado, as mulheres estão divididas atrás de uma rede. “É como estar num zoo deprimente”, afirma Elian Martinez, mãe de 39 anos, que diz ter sido erradamente acusada de fraude.

A única cela para seis mulheres tem quatro camas e espaço suficiente para três pessoas de pé. Elas têm direito a três horas de sol durante a semana.

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Na secção dos homens, 132 reclusos dormem num quarto que tem menos de 50 camas. Os reclusos mais recentes dormem onde encontram um espaço, geralmente no chão que partilham com baratas e ratos. A espera por uma cama disponível é normalmente de três anos.

“Nunca te habituas, apenas te resignas”, atira Estrada. “Todos os dias acordas às cinco da manhã, esperas na fila por água e comida, sobrevives. Cada dia que passa é um dia menos, um dia mais perto de veres a tua família.”