Líder político guineense ameaçado de morte

“Temo pela minha vida, mas não lhes darei o prazer de me obrigar a fugir”, diz ao PÚBLICO Idriça Djalo, ex-candidato presidencial e presidente do PUN. Recebeu mensagem de áudio dizendo que com Sissoco Embaló, “a era de insultos ao Presidente acabou”, nem que seja preciso matá-lo.

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Idriça Djalo garante que se vai manter em sua casa, apesar da ameaça de morte DR

A Guiné-Bissau está cada vez mais envolta num clima de intimidação violenta contra opositores do Presidente. Desta vez foi Idriça Djalo, o líder do Partido da Unidade Nacional (PUN), candidato nas presidenciais do ano passado, a ser ameaçado de morte depois de no sábado ter publicado uma carta a denunciar “o carácter violento do Governo de Nuno Gomes Nabiam”, em reacção à tentativa de sequestro do deputado Marciano Indi por agentes da polícia.

Numa mensagem de áudio de mais de seis minutos, com reiteradas ameaças de violência física e assassinato contra Djalo e outros dirigentes que se opõem ao poder do Presidente Umaro Sissoco Embaló, um interlocutor que o destinatário não consegue identificar, num tom intimidatório e com muitos insultos à mistura, afirma que serão eliminadas 30 ou 40 pessoas e “a Guiné-Bissau ficará em paz por longos anos”.

Invocando o exemplo do antigo Presidente João Bernardo “Nino” Vieira, assassinado em 2009, que “ninguém ousava contrariar”, o autor da ameaça diz que com Embaló “terminou a era de insultos ao Presidente da República”, mesmo que para isso seja necessário matar Idriça Djalo “e outros líderes incómodos”.

Questionado pelo PÚBLICO sobre se vai sair de casa e procurar refúgio numa representação diplomática ou noutro lugar que lhe possa garantir a segurança, o líder do pequeno partido afirma: “Não. Vou ficar na minha casa. Temo pela minha vida, mas não lhes darei o prazer de me obrigar a fugir.”

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Comunicado do PUN, o partido de Idriça Djalo

Por várias vezes, Djalo se manifestou contra a legitimidade do Presidente que se autoproclamou e do Governo que este nomeou, a favor do executivo de Aristides Gomes que estava apoiado numa maioria parlamentar. No sábado, depois da tentativa de rapto por agentes da polícia de Marciano Indi, líder do grupo parlamentar da APU-PDGB, que se recusa a seguir as ordens do seu líder, Nuno Nabiam, e rasgar o acordo parlamentar com o PAIGC, o PUN emitiu um comunicado muito crítico contra “o carácter violento do Governo de Nuno Nabiam”.

“As autoridades não podem permitir-se sacrificar a paz e a segurança dos guineenses por causa de intrigas palacianas. Elas devem velar pelo apaziguamento de tensões e conflitos entre as comunidades e não reabrir feridas do passado que poderão dividir o nosso povo”, acrescenta o comunicado, assinado por Djalo, na qualidade de presidente do PUN, que conclui com uma frase exclamativa: “Terminou o tempo da impunidade!”

Marciano Indi, como os outros deputados eleitos da APU-PDGB, sempre se mantiveram fiéis ao acordo político com o PAIGC, partido mais votado nas eleições de Março de 2019, mesmo com pressões, intimidações e ameaças que sofreram, como o próprio deputado disse ao PÚBLICO em Março.

Na quinta-feira, o líder da bancada parlamentar da APU-PDGB voltou a questionar a legitimidade do Governo de Nabiam e a demonstrar o seu apoio ao acordo com o PAIGC, declarações que terão precipitado a tentativa de rapto que poderia ter tido consequências nefastas, não fosse a pronta denúncia pública e “a diplomacia parlamentar”, como referiu ao PÚBLICO o presidente da Assembleia guineense, Cipriano Cassamá.

Tudo isto numa altura em que se esgotou o prazo dado a Umaro Sissoco Embaló pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para a nomeação de um Governo de acordo com o resultado das eleições legislativas, ou seja, escolhido pelo PAIGC. O chefe de Estado, que foi legitimado pela CEDEAO apesar de o processo de contagem dos votos da segunda volta das eleições presidenciais não ter sido concluído pelo Supremo Tribunal, no seu papel de Tribunal Constitucional, tinha até dia 22 de Maio para o fazer.

Entretanto, o chefe de Estado convocou os partidos com assento parlamentar para comparecer esta segunda-feira no Palácio Presidencial para audições com vista à nomeação de um novo Governo, mas Nuno Nabiam não parece disposto a abdicar do seu lugar de primeiro-ministro, tendo em conta o papel que desempenhou para garantir os votos da etnia balanta (a mais numerosa da Guiné-Bissau, representando um quarto da população) para Sissoco Embaló.

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