Potencial vacina contra a covid-19 com bons resultados, mas é cedo para tirar conclusões
Projecto está a ser desenvolvido na China. Autor do estudo alerta que ainda falta um longo caminho até se conseguir perceber se vacina é efectivamente eficaz contra o novo coronavírus.
É um primeiro passo positivo em direcção a uma potencial solução contra a covid-19: a primeira vacina a ser testada em humanos foi considerada segura, bem tolerada pelo organismo e capaz de gerar uma resposta imunológica contra o novo coronavírus, o SARS-CoV-2, de acordo com um artigo publicado na revista científica britânica The Lancet.
“Estes resultados representam uma marca importante. O teste demonstra que uma única dose da vacina produz anticorpos e células T em 14 dias, tornando-a numa candidata para pesquisa futura”, afirma Wei Chen, investigador do Instituto de Biotecnologia de Pequim e o responsável pelo estudo.
A vacina desenvolvida na China foi testada em 108 adultos saudáveis e os resultados após 28 dias foram considerados promissores, mas as conclusões definitivas só poderão ser analisadas daqui a seis meses. Será apenas nesse momento que poderá ser possível entender se a resposta imunológica registada neste primeiro mês após a administração da vacina é efectivamente eficaz contra a infecção por SARS-CoV-2.
Os sujeitos expostos a esta vacina não registaram efeitos secundários graves, sendo que os mais registados foram dor moderada no local da picada, sentida por 54% dos 108 sujeitos da amostra, febre (46%), fadiga (44%), dores de cabeça (39%) e dores musculares (17%).
Wei Chen alerta para o carácter precoce deste tipo de conclusões, reiterando que ainda falta um longo caminho para garantir que esta é uma resposta eficaz contra o vírus.
“Estes resultados devem ser interpretados com cautela. Os desafios no desenvolvimento de uma vacina para a covid-19 não têm precedente. A capacidade de desencadear estas respostas imunológicas não indica necessariamente que a vacina protegerá os humanos da covid-19. Os resultados mostram uma visão promissora no desenvolvimento das vacinas para a covid-19, mas ainda estamos longe de termos esta vacina disponível para todos”, afirmou o especialista, citado no artigo da The Lancet.
Esta vacina usa uma estirpe enfraquecida do vírus da gripe — o adenovírus. O objectivo passa por forçar o sistema imunitário a criar anticorpos que possam ser eficazes contra o novo coronavírus. Os autores do estudo lamentam, porém, o tamanho reduzido da amostra, a curta duração do estudo e a ausência de um grupo de controlo.
Corrida à vacina
Este é um de cinco projectos experimentais que o Governo chinês está a conduzir para conseguir chegar a uma vacina eficaz contra o novo coronavírus. Na semana passada, Zeng Yixin, vice-ministro da Saúde chinês, adiantou que o progresso estava “bem encaminhado”, revelando que já tinham sido vacinados 2575 voluntários nestes testes clínicos. O Presidente chinês, Xi Jinping, deixou a garantia de que se a vacina for descoberta pelos cientistas do país será disponibilizada para todos os restantes países.
Também os Estados Unidos estão na corrida à vacina: a administração Trump já concedeu subsídios a várias farmacêuticas, comprometendo-se a encomendar milhões de vacinas quando uma for considerada eficaz. A mais recente foi a encomenda de 300 milhões de doses à farmacêutica AstraZeneca, no valor de mil milhões de euros. A empresa conta ter uma vacina pronta para ser comercializada a partir de Setembro, mas admite que poderá não ser eficaz contra o novo coronavírus.
A justificação dada pelo Governo norte-americano passa pela necessidade de garantir que a vacina está disponível assim que possível para os cidadãos do país. Os Estados Unidos têm o maior número de mortes e casos de covid-19 em todo o mundo.
“Estamos a fazer vários investimentos no desenvolvimento e produção de vacinas promissoras muito antes de serem aprovadas, para que uma vacina bem-sucedida chegue ao povo americano sem um dia desperdiçado”, afirmou, em comunicado, o secretário da Saúde e Serviços Sociais, Alex Azar.